CESPE/UnB – DPF – Aplicação: 2014 - Prova de Agente Administrativo | 1 A 15

 




Acho que, se eu não fosse tão covarde, o mundo seria um lugar melhor. Não que a melhora do mundo dependa de uma só pessoa, mas, se o medo não fosse constante, as pessoas se uniriam mais e incendiariam de entusiasmo a humanidade. Mas o que vejo no espelho é um homem abatido diante das atrocidades que afetam os menos favorecidos.

Se tivesse coragem, não aceitaria crianças passarem fome, frio e abandono. Elas nos assustam com armas nos semáforos, pedem esmolas, são amontoadas em escolas que  não ensinam, e, por mais que chorem, somos imunes a essas lágrimas. 

Sou um covarde diante da violência contra a mulher, do homem contra o homem. E porque os índios estão tão longe da minha aldeia e suas flechas não atingem meus olhos nem o coração, não me importa que tirem suas terras, sua alma. Analfabeto de solidariedade, não sei ler sinais de fumaça. Se  tivesse um nome indígena, seria “cachorro medroso”. Se fosse o tal ser humano forte que alardeio, não aceitaria famílias sem terem onde morar. Sérgio Vaz. Antes que seja tarde. 

In: Caros Amigos, mai./2013, p. 8 (com adaptações). 

Com base na leitura do texto, julgue os itens seguintes. 

1 A supressão das vírgulas que isolam a oração “se o medo não fosse constante” (R.3) não afetaria a correção gramatical do texto. 


JUSTIFICATIVA – Como as referidas vírgulas marcam a intercalação da oração subordinada adverbial, “se o medo não fosse constante”, que se antecipa à principal, ela é obrigatória e sua supressão afetaria a correção gramatical do texto. 



2 A coerência e a coesão do texto não seriam prejudicadas se o trecho “se o medo não fosse constante, as pessoas (...) a humanidade.” (R.3-4) fosse reescrito da seguinte forma: se o medo não for constante, as pessoas se unirão mais e incendiarão de entusiasmo a humanidade. 

JUSTIFICATIVA – Não seriam prejudicadas a coerência e a coesão do texto se a oração “se o medo não fosse constante, as pessoas (...) humanidade” fosse reescrita como “se o medo não for constante, as pessoas se unirão e incendiarão de entusiasmo a humanidade ”, pois será mantida a correta correlação entre os tempos verbais: originalmente, imperfeito do subjuntivo com futuro do pretérito do indicativo; na proposta apresentada, futuro do subjuntivo com futuro do presente do indicativo. 


3 O verbo alardear, em “Se fosse o tal ser humano forte que alardeio” (R.16-17), está empregado no sentido de vangloriar-se, gabar-se. JUSTIFICATIVA – O autor usa a palavra “alardear” no sentido de revelar, de deixar transparecer, mostrar-se. 


4 Infere-se do texto que as mazelas que assolam o mundo se devem às desigualdades sociais. 

JUSTIFICATIVA – O texto trata as mazelas sociais como consequência da falta de atitude, do comodismo, da inação, do individualismo. 

Embora não tivessem ficado claras as fontes geradoras de quebras da paz urbana, o fenômeno social marcado pelos movimentos populares que tomaram as ruas das grandes cidades brasileiras, em 2013, parecia tendente a se agravar. 

As vítimas das agressões pessoais viram desprotegidas a paz e a segurança, direitos sagrados da cidadania. Todos foram prejudicados. 

Pôde-se constatar que, em outras partes do mundo, fenômenos sociais semelhantes também ocorreram. Lá como cá, diferentes tipos de ação atingiram todo o grupo social, gerando vítimas e danos materiais. Nem sempre a intervenção das forças do Estado foi suficiente para evitar prejuízos. 

Do ponto de vista global, notou-se que a quebra da ordem foi provocada em situações diversas e ora tornou mais graves as distorções do direito, ora espalhou a insegurança coletivamente. Em qualquer das hipóteses, a população dos vários locais atingidos viu-se envolvida em perdas crescentes. Internet: (com adaptações). 


Considerando as ideias e as estruturas linguísticas do texto, julgue os itens de 5 a 10. 5 Depreende-se das ideias do primeiro parágrafo do texto que a identificação da origem do fenômeno social representado pelos movimentos sociais ocorridos em 2013 seria suficiente para evitar que eles se agravassem. 

JUSTIFICATIVA – Depreende-se do primeiro parágrafo que, claras ou não as fontes geradoras dos movimentos populares, o fenômeno social que eles representavam tendia a se agravar. Nada se afirma em relação à identificação da origem do fenômeno social para evitar o agravamento da situação. Ao contrário, a oração subordinada que introduz o parágrafo, por ser concessiva, denota ideia que não impede a ocorrência do que se afirma na oração principal. 


6 Na linha 13, a partícula “se” é empregada para indeterminar o sujeito.

JUSTIFICATIVA – Em “..., notou-se que a quebra da ordem...”, o termo “se” é pronome apassivador, visto que a oração está na voz passiva pronominal, sendo o sujeito oracional. 


7 Por meio do termo “hipóteses” (R.16), são retomadas as ideias dos trechos “tornou mais graves as distorções do direito” (R.14-15) e “espalhou a insegurança coletivamente” (R.15-16). JUSTIFICATIVA – O termo “hipóteses” retoma os casos de perdas da população decorrentes de quebra da ordem, mencionados no período imediatamente anterior: agravamento das distorções do direito e disseminação da insegurança (“tornou mais graves as distorções do direito” e “espalhou a insegurança coletivamente”).


8 A correção gramatical bem como as informações originais do texto seriam mantidas caso o período “As vítimas das agressões pessoais viram desprotegidas a paz e a segurança, direitos sagrados da cidadania.” (R.5-6) fosse reescrito da seguinte forma: As pessoas agredidas viram-se desprotegidas em sua paz e segurança — prerrogativas legais consagradas da cidadania. 

JUSTIFICATIVA – A proposta de reescrita não mantém as informações originais do texto, dada a substituição de “viram desprotegidas a paz e a segurança” por viram-se desprotegidas em sua paz e segurança. De acordo com o sentido original, as prerrogativas legais consagradas da cidadania são a paz e a segurança de todos e não de algumas pessoas somente, como se propõe na reescrita. 



9 Sem prejuízo para o sentido e a correção gramatical do texto, o trecho “Pôde-se constatar (...) ocorreram.” (R.8-9) poderia ser assim reescrito: Supôs-se que também ocorreu, em outros países do mundo, movimentos sociais análogos. 

JUSTIFICATIVA – A proposta de reescrita prejudica o sentido e a correção gramatical do texto. A substituição de “Pôde-se constatar” por “supôs-se” alter substancialmente o sentido original, visto que constatar significa verificar, atestar, e supor significa achar, admitir hipoteticamente. Na proposta de reescrita, também há prejuízo da concordância verbal padrão, visto que a forma verbal “ocorreu” não concorda em número com o sujeito da oração, “movimentos sociais análogos”. 


10 Os termos “Lá” (R.9) e “cá” (R.10) são utilizados como recursos para expressar circunstância de lugar, o primeiro referindo-se a “outras partes do mundo” (R.8) e o segundo, ao Brasil. 

JUSTIFICATIVA – “Lá” e “cá” são dêiticos, usados como recursos coesivos adverbiais que expressam circunstância de lugar, o primeiro referindo-se a “outras partes do mundo” e o segundo, ao Brasil. À luz das orientações constantes no Manual de Redação da Presidência da República, julgue os itens a seguir. 


11 A obrigatoriedade do uso do padrão culto da língua e o requisito de impessoalidade são incompatíveis com o emprego da linguagem técnica nas comunicações oficiais. 

JUSTIFICATIVA – De acordo com o MRPR, os textos oficiais, por terem caráter impessoal, devem ser redigidos em conformidade com o padrão culto da língua, o que não invalida o emprego da linguagem técnica, que pode ser usada, comedidamente, em situações que o exijam. 


12 Admite-se o registro de impressões pessoais na redação oficial, desde que o assunto seja de interesse público e expresso em linguagem formal. 

JUSTIFICATIVA – Segundo o Manual de Redação da Presidência da República ( item 1.1), “não há lugar na redação oficial para impressões pessoais”. Isso se dá independentemente do caráter impessoal do assunto, que deve referir-se ao interesse público, e da natureza objetiva e formal da comunicação. 


13 A concisão, que consiste no respeito ao princípio da economia linguística, é uma característica fundamental em telegramas, modalidade dispendiosa de comunicação. 

JUSTIFICATIVA – De acordo com o MRPR ( itens 1.4 e 6.1), a concisão atende ao princípio da economia linguística e deve pautar a redação dos telegramas, pois estes têm custo elevado. Julgue os itens subsequentes, a respeito do padrão ofício em comunicações oficiais, conforme o Manual de Redação da Presidência da República. 

14 O fecho Respeitosamente não é empregado no aviso; o fecho Atenciosamente é empregado tanto no aviso quanto no ofício. 

JUSTIFICATIVA – Como o aviso é expedido exclusivamente por ministros de Estado para autoridades de mesma hierarquia, o fecho deve ser “Atenciosamente”. E, por ser expedido para e pelas demais autoridades, independentemente da hierarquia, os fechos do ofício podem alternar-se entre “Atenciosamente” e “Respeitosamente”. 


15 No memorando, dispensa-se o vocativo, que deve, contudo, constar no aviso e no ofício. 

JUSTIFICATIVA – Conforme o MRPR, aviso e ofício seguem o modelo do padrão ofício, com acréscimo de vocativo. No memorando, não consta vocativo, e o destinatário é mencionado pelo cargo que ocupa.

Postar um comentário

0 Comentários

Postagem em destaque

São princípios de atuação integrada em segurança pública, segundo a Doutrina Nacional de atuação Integrada de Segurança Pública (DNAISP)