Acho que, se eu não fosse tão covarde, o mundo seria
um lugar melhor. Não que a melhora do mundo dependa de
uma só pessoa, mas, se o medo não fosse constante, as pessoas se uniriam mais e incendiariam de entusiasmo a humanidade.
Mas o que vejo no espelho é um homem abatido diante das
atrocidades que afetam os menos favorecidos.
Se tivesse coragem, não aceitaria crianças passarem
fome, frio e abandono. Elas nos assustam com armas nos
semáforos, pedem esmolas, são amontoadas em escolas que não ensinam, e, por mais que chorem, somos imunes a essas lágrimas.
Sou um covarde diante da violência contra a mulher,
do homem contra o homem. E porque os índios estão tão longe da minha aldeia e suas flechas não atingem meus olhos nem o
coração, não me importa que tirem suas terras, sua alma.
Analfabeto de solidariedade, não sei ler sinais de fumaça. Se tivesse um nome indígena, seria “cachorro medroso”. Se fosse
o tal ser humano forte que alardeio, não aceitaria famílias sem
terem onde morar.
Sérgio Vaz. Antes que seja tarde.
In: Caros
Amigos, mai./2013, p. 8 (com adaptações).
Com base na leitura do texto, julgue os itens seguintes.
1 A supressão das vírgulas que isolam a oração “se o medo não
fosse constante” (R.3) não afetaria a correção gramatical do
texto.
JUSTIFICATIVA – Como as referidas vírgulas marcam
a intercalação da oração subordinada adverbial, “se o medo
não fosse constante”, que se antecipa à principal, ela é
obrigatória e sua supressão afetaria a correção gramatical do
texto.
2 A coerência e a coesão do texto não seriam prejudicadas se o
trecho “se o medo não fosse constante, as pessoas (...) a
humanidade.” (R.3-4) fosse reescrito da seguinte forma: se o
medo não for constante, as pessoas se unirão mais e
incendiarão de entusiasmo a humanidade.
JUSTIFICATIVA –
Não seriam prejudicadas a coerência e a coesão do texto se a
oração “se o medo não fosse constante, as pessoas (...)
humanidade” fosse reescrita como “se o medo não for
constante, as pessoas se unirão e incendiarão de entusiasmo a
humanidade ”, pois será mantida a correta correlação entre os
tempos verbais: originalmente, imperfeito do subjuntivo com
futuro do pretérito do indicativo; na proposta apresentada,
futuro do subjuntivo com futuro do presente do indicativo.
3 O verbo alardear, em “Se fosse o tal ser humano forte que
alardeio” (R.16-17), está empregado no sentido de
vangloriar-se, gabar-se. JUSTIFICATIVA – O autor usa a
palavra “alardear” no sentido de revelar, de deixar
transparecer, mostrar-se.
4 Infere-se do texto que as mazelas que assolam o mundo se
devem às desigualdades sociais.
JUSTIFICATIVA – O texto
trata as mazelas sociais como consequência da falta de atitude,
do comodismo, da inação, do individualismo.
Embora não tivessem ficado claras as fontes geradoras
de quebras da paz urbana, o fenômeno social marcado pelos
movimentos populares que tomaram as ruas das grandes cidades brasileiras, em 2013, parecia tendente a se agravar.
As vítimas das agressões pessoais viram desprotegidas
a paz e a segurança, direitos sagrados da cidadania. Todos foram prejudicados.
Pôde-se constatar que, em outras partes do mundo,
fenômenos sociais semelhantes também ocorreram. Lá como cá, diferentes tipos de ação atingiram todo o grupo social,
gerando vítimas e danos materiais. Nem sempre a intervenção
das forças do Estado foi suficiente para evitar prejuízos.
Do ponto de vista global, notou-se que a quebra da
ordem foi provocada em situações diversas e ora tornou mais
graves as distorções do direito, ora espalhou a insegurança coletivamente. Em qualquer das hipóteses, a população dos
vários locais atingidos viu-se envolvida em perdas crescentes.
Internet: (com adaptações).
Considerando as ideias e as estruturas linguísticas do texto, julgue
os itens de 5 a 10.
5 Depreende-se das ideias do primeiro parágrafo do texto que a
identificação da origem do fenômeno social representado pelos
movimentos sociais ocorridos em 2013 seria suficiente para
evitar que eles se agravassem.
JUSTIFICATIVA –
Depreende-se do primeiro parágrafo que, claras ou não as
fontes geradoras dos movimentos populares, o fenômeno social
que eles representavam tendia a se agravar. Nada se afirma em
relação à identificação da origem do fenômeno social para
evitar o agravamento da situação. Ao contrário, a oração
subordinada que introduz o parágrafo, por ser concessiva,
denota ideia que não impede a ocorrência do que se afirma na
oração principal.
6 Na linha 13, a partícula “se” é empregada para indeterminar o
sujeito.
JUSTIFICATIVA – Em “..., notou-se que a quebra da
ordem...”, o termo “se” é pronome apassivador, visto que a
oração está na voz passiva pronominal, sendo o sujeito
oracional.
7 Por meio do termo “hipóteses” (R.16), são retomadas as ideias
dos trechos “tornou mais graves as distorções do direito”
(R.14-15) e “espalhou a insegurança coletivamente” (R.15-16).
JUSTIFICATIVA – O termo “hipóteses” retoma os casos de
perdas da população decorrentes de quebra da ordem,
mencionados no período imediatamente anterior: agravamento
das distorções do direito e disseminação da insegurança
(“tornou mais graves as distorções do direito” e “espalhou a
insegurança coletivamente”).
8 A correção gramatical bem como as informações originais do
texto seriam mantidas caso o período “As vítimas das
agressões pessoais viram desprotegidas a paz e a segurança,
direitos sagrados da cidadania.” (R.5-6) fosse reescrito da
seguinte forma: As pessoas agredidas viram-se desprotegidas
em sua paz e segurança — prerrogativas legais consagradas da
cidadania.
JUSTIFICATIVA – A proposta de reescrita não
mantém as informações originais do texto, dada a substituição
de “viram desprotegidas a paz e a segurança” por viram-se
desprotegidas em sua paz e segurança. De acordo com o
sentido original, as prerrogativas legais consagradas da
cidadania são a paz e a segurança de todos e não de algumas
pessoas somente, como se propõe na reescrita.
9 Sem prejuízo para o sentido e a correção gramatical do texto,
o trecho “Pôde-se constatar (...) ocorreram.” (R.8-9) poderia ser
assim reescrito: Supôs-se que também ocorreu, em outros
países do mundo, movimentos sociais análogos.
JUSTIFICATIVA – A proposta de reescrita prejudica o
sentido e a correção gramatical do texto. A substituição de
“Pôde-se constatar” por “supôs-se” alter substancialmente o
sentido original, visto que constatar significa verificar, atestar,
e supor significa achar, admitir hipoteticamente. Na proposta
de reescrita, também há prejuízo da concordância verbal
padrão, visto que a forma verbal “ocorreu” não concorda em
número com o sujeito da oração, “movimentos sociais
análogos”.
10 Os termos “Lá” (R.9) e “cá” (R.10) são utilizados como recursos
para expressar circunstância de lugar, o primeiro referindo-se
a “outras partes do mundo” (R.8) e o segundo, ao Brasil.
JUSTIFICATIVA – “Lá” e “cá” são dêiticos, usados como
recursos coesivos adverbiais que expressam circunstância de
lugar, o primeiro referindo-se a “outras partes do mundo” e o
segundo, ao Brasil.
À luz das orientações constantes no Manual de Redação da
Presidência da República, julgue os itens a seguir.
11 A obrigatoriedade do uso do padrão culto da língua e o
requisito de impessoalidade são incompatíveis com o emprego
da linguagem técnica nas comunicações oficiais.
JUSTIFICATIVA – De acordo com o MRPR, os textos
oficiais, por terem caráter impessoal, devem ser redigidos em
conformidade com o padrão culto da língua, o que não invalida
o emprego da linguagem técnica, que pode ser usada,
comedidamente, em situações que o exijam.
12 Admite-se o registro de impressões pessoais na redação oficial,
desde que o assunto seja de interesse público e expresso em
linguagem formal.
JUSTIFICATIVA – Segundo o Manual de
Redação da Presidência da República ( item 1.1), “não há lugar
na redação oficial para impressões pessoais”. Isso se dá
independentemente do caráter impessoal do assunto, que deve
referir-se ao interesse público, e da natureza objetiva e formal
da comunicação.
13 A concisão, que consiste no respeito ao princípio da economia
linguística, é uma característica fundamental em telegramas,
modalidade dispendiosa de comunicação.
JUSTIFICATIVA –
De acordo com o MRPR ( itens 1.4 e 6.1), a concisão atende
ao princípio da economia linguística e deve pautar a redação
dos telegramas, pois estes têm custo elevado.
Julgue os itens subsequentes, a respeito do padrão ofício em
comunicações oficiais, conforme o Manual de Redação da
Presidência da República.
14 O fecho Respeitosamente não é empregado no aviso; o fecho
Atenciosamente é empregado tanto no aviso quanto no ofício.
JUSTIFICATIVA – Como o aviso é expedido exclusivamente
por ministros de Estado para autoridades de mesma hierarquia,
o fecho deve ser “Atenciosamente”. E, por ser expedido para
e pelas demais autoridades, independentemente da hierarquia,
os fechos do ofício podem alternar-se entre “Atenciosamente”
e “Respeitosamente”.
15 No memorando, dispensa-se o vocativo, que deve, contudo,
constar no aviso e no ofício.
JUSTIFICATIVA – Conforme o
MRPR, aviso e ofício seguem o modelo do padrão ofício, com
acréscimo de vocativo. No memorando, não consta vocativo,
e o destinatário é mencionado pelo cargo que ocupa.
0 Comentários