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História da Medusa explicada (Mitologia Grega)
Ao longo dos séculos, o mito foi se popularizando em várias partes do mundo. Medusa foi representada através da pintura, escultura, literatura e música, entre outras mídias, passando a integrar nosso imaginário coletivo.
As três Górgonas: Medusa e suas irmãs
Filhas das divindades marinhas Fórcis e Ceto, as Górgonas eram três irmãs de aparência monstruosa que se chamavam Euríale, Esteno e Medusa. Apenas a última era mortal e o seu nome derivava do verbo "mandar", significando "aquela que manda".
Já a palavra "górgona" surgiu a partir do adjetivo "gorgós" que, no grego antigo, era sinônimo de "terrível" ou "selvagem". Com serpentes na cabeça e asas douradas, elas assustavam até os deuses. Pierre Grimal descreveu as criaturas na obra Mitologia Grega:
As Górgonas tinham um aspecto pavoroso. Suas cabeças eram envolvidas por serpentes, armadas de grossas presas, parecidas com as de javalis; suas mãos eram de bronze; asas de ouro lhes permitiam voar. Seus olhos faiscavam, e deles saía um olhar tão penetrante que quem o visse se transformava em pedra. Objeto de horror, elas tinham sido relegadas aos limites do mundo, no meio da noite, e ninguém era suficientemente ousado para abordá-las.
Personificando os medos e os males da humanidade, as Górgonas tinham que permanecer escondidas do resto do mundo. Elas eram vigiadas e protegidas pelas Gréias, que também eram suas irmãs e já nasceram velhas, com apenas um olho que precisavam partilhar.
Mulher amaldiçoada pelos deuses
Segundo a versão do mito que é contada por Ovídio, Medusa nem sempre foi uma górgona e seu passado era bem diferente antes da maldição. Ela era uma sacerdotisa de longos cabelos que servia no templo da deusa Atena. Por ser uma mulher extremamente bonita, atraía a atenção de todos, mortais e imortais.
Após a insistência do deus Poseidon, que governava os mares, os dois se envolveram intimamente no interior do templo. O ato foi interpretado como um desrespeito ao local sagrado e a mulher foi alvo de um castigo severo.
Atena, deusa que era conhecida pela sabedoria, ficou tão zangada que transformou Medusa num monstro. Assim, seus cabelos se tornaram cobras: uma visão tão assustadora que era capaz de petrificar qualquer um que olhasse diretamente.
Em algumas narrativas, a mulher foi seduzida pelo deus e, por não ter cumprido suas obrigações de sacerdotisa, seria merecedora da punição. Contudo, noutras versões, ela foi atacada por Poseidon e não teve escolha, sendo condenada por um crime que não cometeu.
Perseu, o guerreiro que matou Medusa
Perseu era um semideus que nasceu da união de Zeus com Dânae, uma mortal. Para conseguir seduzi-la, a divindade se transformou numa chuva de ouro que caiu sobre o seu corpo. O pai da moça não aceitou a gravidez inexplicável, então colocou o recém-nascido e sua mãe numa pequena embarcação, esperando que eles naufragassem.
Contudo, Zeus resolveu protegê-los e permitiu que chegassem em segurança à ilha de Sérifo, governada por Polidecto. Com os anos, Perseu virou um guerreiro forte e repleto de coragem; essas qualidades começaram a intimidar o rei, que procurava um jeito de se livrar dele. O soberano ordenou, então, que deveria cortar a cabeça da Medusa e trazê-la como prêmio.
Para realizar uma tarefa tão arriscada, o herói precisou de auxílio divino. Atena ofertou um escudo de bronze, Hades cedeu um elmo que o tornava invisível e Hermes, o mensageiro dos deuses, emprestou suas sandálias aladas. Se servindo da invisibilidade, Perseu se aproximou das Gréias e conseguiu roubar o olho delas, fazendo com que todas caíssem no sono.
Assim, conseguiu chegar até às Górgonas que também estavam dormindo. Usando as sandálias de Hermes, ele sobrevoou as criaturas e, como não podia olhar diretamente para Medusa, usou o escudo de bronze para ver o seu reflexo.
Em seguida, Perseu cortou a sua cabeça e passou a carregá-la, usando-a como arma para se defender dos inimigos. A cena famosa foi registrada em esculturas de diversos artistas, como Benvenuto Cellini, Antonio Canova e Salvador Dalí.
Quando Medusa foi decapitada, dois filhos brotaram do seu sangue, frutos do antigo encontro com Poseidon. Um deles era Pégaso, o cavalo com asas; o outro era Crisaor, um gigante que nasceu segurando uma espada de ouro.
Perseu usou a cabeça da górgona para vencer Atlas e também um enorme monstro marinho que estava prestes a devorar Andrômeda, que se tornou sua esposa. Mais tarde, ele entregou a cabeça de Medusa a Atena e a deusa começou a carregá-la no seu escudo que se chamava Égide.
Significado do mito: um olhar contemporâneo
A figura da górgona passou a ser pintada ou esculpida nos escudos, nos templos sagrados e em objetos do cotidiano, como taças de vinho. O objetivo do desenho era garantir a proteção e a sorte, afugentando forças malévolas.
Com a passagem do tempo, foram surgindo novas interpretações e leituras para o mito antigo. Refletindo uma época dominada pelo gênero masculino, a história parece metaforizar o modo como as mulheres eram tratadas, narrando principalmente a repressão e demonização da sexualidade.
A capacidade de transformar homens em pedra e a própria expressão do seu rosto, nas várias representações artísticas, viraram sinônimo da fúria feminina. Assim, a figura de Medusa se tornou um ícone da luta feminista: não mais encarada como um monstro, mas como uma mulher poderosa, em busca de reparação pelo que sofreu.
Observando a história através de um olhar contemporâneo, percebemos que Medusa foi violentada por Poseidon, mas a responsabilidade e a punição recaíram sobre ela. Por isso, na atualidade, foi adotada como um símbolo para as sobreviventes de violência sexual.
A nova versão do mito foi representada em Medusa com a Cabeça de Perseu, de Luciano Garbati, que subverte a mensagem das obras célebres que referimos mais acima, ilustrando a força e resistência das mulheres.
A estátua foi associada ao movimento #MeToo, nos Estados Unidos da América e ganhou atenção internacional em 2020, quando passou a estar exposta em frente ao Tribunal Criminal de Nova York, anunciando justiça para as vítimas.
Fontes bibliográficas:
- BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002
- GRIMAL, Pierre. Mitologia Grega. Porto Alegre: L&PM, 2009
- Dicionário Etimológico da Mitologia Grega (DEMGOL). São Paulo: online, 2013
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