O Hermetismo influencia sua vida. Saiba como?
O que é o Hermetismo?
O Hermetismo é uma riquíssima tradição religiosa, filosófica e esotérica enraizada principalmente nos escritos atribuídos ao sábio Hermes Trismegisto (ou Trimegistus, o “Hermes Três Vezes Grande”).
Esses escritos influenciaram muito a tradição esotérica ocidental e foram considerados de grande importância durante parte da Idade Média e por todo o Renascimento.
É uma tradição que tem suas bases na assim chamada prisca theologia, uma antiga doutrina que afirma a existência de uma única e verdadeira teologia presente em todas as religiões e que foi concedida por Deus ao homem na antiguidade.
Muitos escritores, incluindo Lactâncio, Cipriano de Cartago, Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Giordano Bruno, Tommaso Campanella, Sir Thomas Browne e Ralph Waldo Emerson, consideravam Hermes Trismegisto um sábio profeta pagão que previu o Advento de Cristo.
Grande parte da importância do hermetismo se origina de sua conexão com o desenvolvimento da ciência durante o período de 1300 a 1600 d,C.
O destaque que se deu à ideia de influenciar ou controlar a natureza levou muitos cientistas e pesquisadores a olharem com atenção para a magia e suas artes afins, como por exemplo, alquimia e astrologia.
Na época, o esoterismo tinha em comum com a ciência o impulso de estudar a natureza por meio de experimentos.
No caso da alquimia, os experimentos que abrangiam a procura da Pedra Filosofal. No da magia, os experimentos espirituais das evocações de seres de outros planos.
Consequentemente, foram os aspectos práticos dos escritos herméticos que atraíram a atenção dos cientistas.
Isaac Newton, por exemplo, depositou grande fé no conceito de uma doutrina pura e não adulterada, que ele estudou com afinco para ajudá-lo a entender o mundo físico.
Origem do termo Hermético
O termo Hermético se origina do latim medieval hermeticus, que é derivado do nome do deus grego Hermes.
Hermes era o mensageiro dos deuses. O responsável portanto por ligar o Céu à Terra, e era um deus relacionado à ciência, à sabedoria, ao estudo, à medicina. Tanto que o caduceu de Hermes é até hoje um símbolo da medicina. Foi também associado ao deus egípcio Thot.
Hermes Trimegisto, que usava esse pseudônimo em homenagem ao deus Hermes, supostamente foi quem inventou o processo de produção de um tubo de vidro hermético (um processo alquímico). Para isso, usou um selo secreto.
Portanto, a definição de “completamente selado” está implícito nas palavras “hermeticamente fechado (ou selado)”. E o termo “hermético” também é equivalente de “oculto”, ou “difícil de decifrar”, até porque os textos herméticos sempre foram carregados de simbologia nem sempre fácil de ser compreendida pelos não iniciados.
O Hermetismo na Antiguidade Tardia
Na Antiguidade Tardia, o Hermetismo surgiu em paralelo ao cristianismo primitivo, ao gnosticismo, ao neoplatonismo, aos oráculos caldeus e à literatura órfica e pitagórica tardia. Essas doutrinas foram “caracterizadas por uma resistência ao domínio da pura racionalidade ou da fé doutrinária.”
Ou seja, não seguiam nem a racionalidade mais pura de Aristóteles, que se afastava de concepções religiosas e místicas, e nem dogmas de fé rígidos.
Os textos agora conhecidos como Corpus Hermeticum são datados por tradutores modernos e pela maioria dos estudiosos como pertencendo ao início do século II ou pouco antes.
No entanto, a menção de Plutarco a Hermes Trismegisto remonta ao século I d.C.
E Tertuliano, Jâmblico e Porfírio estavam todos familiarizados com os escritos herméticos,
Quanto a seus temas, esses textos se concentram na unicidade e bondade de Deus, instigam a purificação da alma e expandem o relacionamento entre mente e espírito. Sua forma literária predominante é o diálogo.
Hermes Trismegisto, segundo se dizia um antigo sacerdote egípcio, instruía seus discípulos durante esses diálogos, falando sobre vários ensinamentos da sabedoria oculta.
O Hermetismo na Idade Média, no Renascimento e no começo da Idade moderna
Com a queda do Império Romano, depois de séculos de desvalorização, o Hermetismo foi reintroduzido no Ocidente quando, por volta da metade do século XV, um homem chamado Leonardo de Pistoia levou o Corpus Hermeticum à Itália.
Ele foi um dos muitos agentes enviados pelo governante de Pistoia e Florença, Cosimo de’ Medici, para vasculhar os mosteiros europeus em busca de escritos antigos perdidos.
Em 1614, Isaac Casaubon, um estudioso suíço, analisou os textos herméticos antigos e, pelo estilo do Corpus Hermeticum, concluiu que os escritos atribuídos a Hermes Trismegisto não eram obra de um antigo sacerdote egípcio, mas que datavam dos séculos I, II e III depois de Cristo.
Contudo, mesmo depois do estudo de Casaubon, Thomas Browne, em sua Religio Medici (1643) afirmou com confiança: “As escolas severas (os estudiosos mais rígidos e descrentes) nunca me convencerão a abandonar a filosofia de Hermes, segundo a qual este mundo visível é apenas um reflexo do invisível.”
Discussões a esse respeito persistem até hoje, e na verdade para a essência do Hermetismo pouco importa se o Trismegisto foi um antigo sacerdote do Egito ou um sábio grego. Ou então se esse sacerdote antigo foi alguém que inspirou textos gregos posteriores.
O que importa mais são os textos em si, e a sabedoria contida neles.
O Hermetismo nos tempos modernos até os dias de hoje
O Hermetismo influenciou muitos iniciados importantes para o Esoterismo moderno e contemporâneo, como Papus, Eliphas Lévi, Alice Bailey e os autores do Caibalion, sobre o qual logo falaremos.
Em 1945, textos herméticos foram encontrados perto da cidade egípcia Nag Hammadi. Um desses textos tinha a forma de uma conversa entre Hermes e seu discípulos Asclépio.
Um segundo texto falava sobre as escolas de mistérios herméticos. Estava escrito na língua copta, a forma mais recente de escrita da antiga língua egípcia.
De acordo com Geza Vermes, o hermetismo era um misticismo helenístico (de origem grega) contemporâneo ao Evangelho de João.
Hermes Tresmegisto era “a reencarnação helenizada da divindade egípcia Thoth, a fonte da sabedoria, que se acreditava que pudesse divinazar o homem através do conhecimento (gnose).”
Gilles Quispel diz: “Agora é completamente certo que existia antes e depois do início da era cristã em Alexandria uma sociedade secreta, semelhante a uma loja maçônica. Os membros deste grupo se autodenominavam irmãos, eram iniciados por um batismo do Espírito, cumprimentavam-se com um beijo sagrado, celebravam uma refeição sagrada e liam os escritos herméticos como tratados edificantes (exemplares) para seu progresso espiritual”.
O Caibalion
O Caibalion foi publicado em 1908 pela Yogi Publication Society.
Seus autores (ou organizadores) foram três espiritualistas que usaram o pseudônimo de “os Três Iniciados” surgiu com a afirmação de conter a essência dos ensinamentos de Hermes Trismegisto.
Apareceu como um tratado voltado a ensinar o Hermetismo como era aprendido nas escolas herméticas do Antigo Egito e da Antiga Grécia.
Seu material se tornou um dos pilares do ocultismo da época e muitas das ideias apresentadas neste livro anteciparam conceitos que se tornaram populares no século XXI, como por exemplo, a Lei da Atração.
Segundo os autores, a versão atual do Caibalion seria uma reformulação de um antigo livro iniciático de mesmo nome. E teria sido transmitido no boca a boca por gerações, passando de mestre para discípulo, até que se chegasse ao formato do livro como foi publicado.
Por isso também pode-se considerá-los como organizadores ou compiladores.
O título faz referência à palavra hebraica que em seu significado sugere a existência de uma tradição ou doutrina manifestada por um Ente superior. Tem a mesma raiz da palavra cabala.
A concepção de Deus do Hermetismo
No Hermetismo, a Entidade suprema é referida de várias maneiras como Deus, o Todo ou o Um.
Deus, no Hermetismo tradicional, é unitário e transcendente: portanto ele é um e existe separado do cosmo material.
Segundo algumas correntes herméticas, a Divindade criou o cosmo como um Deus pessoal. Segundo outras, simplesmente emanou o cosmo de si mesma.
Deus, no entanto, não é o único ser sobrenatural.
O Hermetismo concorda com a ideia que diversos seres espirituais, como éons, anjos e elementais, existem dentro do universo.
A Prisca theologia
Os hermetistas acreditam em uma prisca theologia, a doutrina de que existe uma única e verdadeira teologia, que existe em todas as religiões e que foi dada por Deus ao homem ainda na antiguidade.
Segundo antigos autores, inclusive alguns dos chamados pais da Igreja cristã, Hermes Trismegisto era um contemporâneo de Moisés.
Mais recentemente, alguns autores, como Aldous Huxley, desenvolveram o conceito de Philosophia Perennis: uma sabedoria eterna e comum a todas as religiões, algo muito semelhante a à Prisca theologia do Hermetismo.
“Assim acima, como abaixo”: A Tábua de Esmeralda
A mais famosa das máximas herméticas está representada imageticamente na carta do Mago do Tarot. Basta olhar atentamente para como o Mago se posiciona.
Esta frase se origina do texto da Tábua de Esmeralda, o texto de Hermes Trismegisto que teria dado origem à Alquimia.
A Tábua de Esmeralda diz o seguinte:
(1) É verdade, certo e muito verdadeiro:
(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua nutridora;
(5) O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
(9) Desse modo obterás a glória do mundo.
(10) E se afastarão de ti todas as trevas.
(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder:
Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
(12) Assim o mundo foi criado.
(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.
(15) O que eu disse da Obra Solar é completo.
Esse princípio também é frequentemente usado no sentido de existirem o microcosmo e o macrocosmo.
O microcosmo é o si mesmo, e o macrocosmo é o universo.
O macrocosmo é como o microcosmo e vice-versa: nós, em nossa essência, somos semelhantes ao universo.
É também por isso que os seres humanos deveriam compreender melhor uns aos outros. Porque na essência somos todos igualmente elevados.
O Hermetismo e a Alquimia
A Alquimia (também chamada de operação do Sol) não é apenas a operação química que produz a mudança do chumbo em ouro. É um estudo profundo da vida, do espírito e da matéria.
Não é uma simples forma de se ter uma vida mais longa ou alcançar a imortalidade. Para a Alquimia, a Longa Vida e a Iluminação espiritual são inseparáveis.
Desde o início Alquimia e Hermetismo caminharam juntos e podem ser considerados praticamente a mesma disciplina. De certa forma o Hermetismo seria a teoria e a Alquimia a prática.
Os vários estágios da destilação e fermentação química, entre outros processos, são aspectos de mistérios que, quando aplicados, aceleram os processos da natureza para levar um corpo natural à perfeição.
A prática laboratorial e o caminho espiritual são paralelos. O corpo e seu intelecto se elevam junto com a alma.
A perfeição almejada pela Alquimia é a realização da magnum opus (ou seja, a “Grande Obra”).
A Teurgia
Existem dois tipos diferentes de magia, de acordo com a Apologia de Pico della Mirandola. E eles são completamente opostos um ao outro.
O primeiro é a Goetia ou Goécia, a magia negra dependente de uma aliança com espíritos malignos (ou seja, demônios).
A segunda é a Teurgia, a magia divina dependente de uma aliança com espíritos divinos (ou seja, anjos, arcanjos, espíritos celestiais).
A Teurgia é outro aspecto prático da filosofia hermética, e é vista como algo profundamente ligado à Alquimia.
A Alquimia é vista como a “chave” que abre os maiores tesouros da Teurgia. Até porque, com a transmutação alquímica, pode-se ter pleno acesso aos planos superiores, à Consciência Divina que é o objetivo último da Teurgia.
As Sete Leis Herméticas ou Sete Princípios do Hermetismo
Não poderíamos terminar sem mencionar aquelas que são as principais leis do Hermetismo:
- Lei da Correspondência. “O que está em cima é como o que está embaixo.”
- Lei do Mentalismo: “O Todo é Mente; o Universo é Mental.”
- Lei da Vibração: “Nada está parado, tudo se move, tudo vibra.”
- Lei da Polaridade: “Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados.”
- Lei do Ritmo: “Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação.”
- Lei do Gênero: “O Gênero está em tudo. Tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero se manifesta em todos os planos de criação.”
- Lei de Causa e Efeito, “Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei.”
Sobre a Lei da Correspondência, já falamos um pouco.
Contudo, não vamos detalhar aqui as Sete Leis ou Princípios.
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