A evolução do metabolismo
Analisamos até agora o surgimento das primeiras
formas vivas, e você deve ter notado que já mencionamos, para essas
formas, algumas características importantes para conceituar um ser vivo.
Esses primeiros organismos possuem compostos orgânicos na constituição
de seus corpos, são celulares (unicelulares, no caso) e têm capacidade
de reprodução.
Não discutimos ainda uma outra característica dos seres vivos: o metabolismo. Vamos, então, analisar como deve ter sido a provável evolução das vias metabólicas nos seres vivos.
Todo o ser vivo precisa de
alimentos, que são degradados nos processos metabólicos para a liberação
de energia e realização das funções. Esses alimentos degradados também
podem ser utilizados como matéria-prima na síntese de outras substâncias
orgânicas, possibilitando o crescimento e a reposição de perdas.
Vamos analisar, então, como esses primeiros seres
conseguiam obter e degradar o alimento para a sua sobrevivência. Duas
hipóteses têm sido discutidas pelos cientistas: a hipótese heterotrófica e a autotrófica.
Hipótese heterotrófica
Segunda essa hipótese, os primeiros organismos
eram estruturalmente muito simples, sendo de se supor que as reações
químicas em suas células também eram simples. Eles viviam em um ambiente
aquático, rico em substâncias nutritivas, mas provavelmente não havia
oxigênio na atmosfera, nem dissolvido na água dos mares. Nessas
condições, é possível supor que, tendo alimento abundante ao seu redor,
esses primeiros seres teriam utilizado esse alimento já prono como fonte
de energia e matéria-prima. Eles seriam, portanto, heterótrofos (hetero = diferente, trofos
= alimento): organismos que não são capazes de sintetizar seus próprios
alimentos a partir de compostos inorgânicos, obtendo-os prontos do meio
ambiente.
Os seres capazes de sintetizar seus próprios alimentos a partir de substâncias inorgânicas simples são chamados de autótrofos (auto = próprio, trofos = alimento), como é o caso das plantas.
Uma vez dentro da célula, esse alimento precisa
ser degradado. Nas condições da Terra atual, a via metabólica mais
simples para se degradar o alimento sem oxigênio é a fermentação, um
processo anaeróbio (an = sem, aero= ar, bio =
vida). Um dos tipos mais comuns de fermentação é a fermentação
alcoólica. O açúcar glicose é degradado em álcool etílico (etanol) e gás
carbônico, liberado energia para as várias etapas do metabolismo
celular.
Esses organismos começaram a aumentar em número
por reprodução. Paralelamente a isso, as condições climáticas da Terra
também estavam mudando a ponto de não mais ocorrer síntese pré-biótica
de matéria orgânica. Desse modo, o alimento dissolvido no meio teria
começado a ficar escasso.
Com alimento reduzido e um grande número de
indivíduos nos mares, deve ter havido muita competição, e muitos
organismos teriam morrido por falta de alimento. Ao mesmo tempo, teria
se acumulado CO2 no ambiente. Acredita-se que nesse novo
cenário teria ocorrido o surgimento de alguns seres capazes de captar a
luz solar com o auxílio de pigmentos como a clorofila. A energia da luz
teria sido utilizada para a síntese de seus próprios alimentos
orgânicos, a partir de água e gás carbônico. Teriam surgido assim os
primeiros seres autótrofos: os seres fotossintetizantes (foto = luz; síntese em presença de luz), que não competiam com os heterótrofos e proliferaram muito.
Esses primeiros seres fotossintetizantes foram fundamentais na modificação da composição da atmosfera: eles introduziram o oxigênio no ar, e a atmosfera teria passado de redutora a oxidante.
Até os dias de hoje, são principalmente os seres fotossintetizantes que
matem os níveis de oxigênio na atmosfera, o que é fundamental para a
vida no nosso planeta. Em condições de baixa disponibilidade de
moléculas orgânicas no meio, esses organismo aeróbios teriam grande
vantagem sobre os fermentadores.
Havendo disponibilidade de oxigênio, foi
possível a sobrevivência de seres que desenvolveram reações metabólicas
complexas, capazes de utilizar esse gás na degradação do alimento.
Surgiram, então, os primeiros seres aeróbios, que realizam a
respiração. Por meio da respiração, o alimento, especialmente o açúcar
glicose, é degradado em gás carbônico e água, liberando muito mais
energia para a realização das funções vitais do que na fermentação.
A fermentação, a fotossíntese e a respiração
permaneceram ao longo do tempo e ocorrem nos organismos que vivem
atualmente na Terra. Todos os organismos respiram e/ou fermentam, mas
apenas alguns respiram e fazem fotossíntese.
HIPÓTESE HETEROTRÓFICA
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Fermentação --> Fotossíntese --> Respiração
|
Hipótese autotrófica
Alguns cientistas têm argumentado que os seres
vivos não devem ter surgido em mares rasos e quentes, como proposto por
Oparin e Haldane, pois a superfície terrestre, na época em que a vida
surgiu, era um ambiente muito instável. Meteoritos e cometas atingiam essa superfície com muita freqüência, e a vida primitiva não poderia se manter em tais condições.
Logo no início da formação da Terra, meteoritos
colidiram fortemente com a superfície terrestre, e a energia dessas
colisões era gasta no derretimento ou até mesmo na vaporização da
superfície rochosa. Os meteoritos fragmentavam-se e derretiam,
contribuindo com sua substância para a Terra em crescimento. Um impacto
especialmente violento pode ter gerado a Lua, que guarda até hoje em sua
superfície as marcas desse bombardeio por meteoritos. Na superfície da
Terra a maioria dessas marcas foi apagada ao longo do tempo pela erosão.
A maioria dos meteoritos se queima até
desaparecer quando entra na atmosfera terrestre atual e brilha no céu
como estrelas cadentes. Nos primórdios, os meteoritos eram maiores, mais
numerosos e atingiam a Terra com mais freqüência.
Alguns cientistas especulam
que os primeiros seres vivos não poderiam ter sobrevivido a esse
bombardeio cósmico, e propõem que a vida tenha surgido em locais mais
protegidos, como o assoalho dos mares primitivos.
Em 1977, foram descobertas nas profundezas oceânicas as chamadas fontes termais submarinas, locais de onde emanam gases quentes e sulfurosos que saem de aberturas no assoalho marinho.
Nesses locais a vida é abundante. Muitas bactérias que aí vivem são
autótrofas, mas realizam um processo muito distinto da fotossíntese.
Onde essas bactérias vivem não há luz, e elas são a base de uma cadeia
alimentar peculiar. Elas servem de alimento para os animais ou então são
mantidas dentro dos tecidos deles. Nesse caso, tanto os animais como as
bactérias se beneficiam: elas têm proteção dentro do corpo dos animais,
e estes recebem alimentos produzidos pelas bactérias.
A descoberta das fontes termais levantou a
possibilidade de que a vida teria surgido nesse tipo de ambiente
protegido e de que a energia para o metabolismo dos primeiros seres
vivos viria de uma mecanismo autotrófico denominado quimiossíntese.
Alguns cientistas acreditam que os primeiros seres vivos foram
bactérias, que obtinham energia para o metabolismo a partir da reação
entre substâncias inorgânicas, como fazem as bactérias encontradas
atualmente nas fontes termais submarinas e em outros ambientes muito
quentes (com cerca de 60 a 105ºC) e sulfurosos. Segundo essa hipótese,
parece que toda a vida que conhecemos descende desse tipo de bactéria,
que devia ser autotrófica.
Os que argumentam a favor dessa hipótese
baseiam-se em evidências que sugerem abundância de sulfeto de hidrogênio
(gás sulfídrico, H2S, que tem cheiro de ovo podre) e
compostos de ferro na Terra primitiva. As primeiras bactérias devem ter
obtido energia de reações que tenham envolvido esses compostos para a
síntese de seus componentes orgânicos.
Algumas bactérias que vivem atualmente em fontes
quentes e sulfurosas podem realizar a reação química a seguir, que,
segundo a hipótese autotrófica, pode ter sido a reação fundamental
fornecedora de energia para os primeiros seres vivos:
Sulfeto ferroso + gás sulfídrico ---> sulfeto férrico + gás hidrogênio + energia (pirita, um mineral comum) |
A energia liberada por essas reação pode ser
usada pelas bactérias para a produção de compostos orgânicos essenciais
para a vida, a partir de CO2 e H2O.
Assim, segundo essa hipótese, a quimiossíntese
- um processo autotrófico – teria surgido primeiro. Depois teriam
surgido a fermentação, a fotossíntese e finalmente a respiração.
Os debates sobre origem da vida ainda darão muito
o que falar. A hipótese mais aceita sobre a evolução do metabolismo
ainda é a heterótrofa, embora a hipótese autótrofa venha ganhando cada
vez mais força.
Vida multicelular
Como surgiram os seres multicelulares? Evidências obtidas de estudos geológicos sugerem que os primeiros multicelulares simples surgiram na Terra há cerca de 750 milhões de anos! Antes
disso houve o predomínio de vida unicelular, como formas eucarióticas
simples. A partir dessa data, surgem os primeiros multicelulares,
originados dos unicelulares eucariotos existentes.
Desde então, a evolução não parou mais!
Evolução biológica
Entre os seres vivos e o meio em que vivem há um
ajuste, uma harmonia fundamental para a sobrevivência. O flamingo rosa,
por exemplo, abaixa a cabeça até o solo alagadiço em que vive para
buscar ali seu alimento; os beija-flores, com seus longos bicos, estão
adaptados à coleta do néctar contido nas flores tubulosas que visitam. A adaptação dos seres vivos ao meio é um fato incontestável. A origem da adaptação, porém, sempre foi discutida.
Na Antigüidade, a idéia de que as espécies seriam fixas e imutáveis foi defendida pelos filósofos gregos. Os chamados, fixistas propunham
que as espécies vivas já existiam desde a origem do planeta e a
extinção de muitas delas deveu-se a eventos especiais como, por exemplo,
catástrofes, que teriam exterminado grupos inteiros de seres vivos. O filósofo grego Aristóteles,
grande estudioso da natureza, não admitia a ocorrência de transformação
das espécies. Acreditava que os organismos eram distribuídos segundo
uma escala que ia do mais simples ao mais complexo. Cada ser vivo nesta
escala, tinha seu lugar definido. Essa visão aristotélica, que perdurou
por cerca de 2.000 anos, admitia que as espécies eram fixas e imutáveis.
Lentamente, a partir do século XIX, uma série de
pensadores passou a admitir a idéia da substituição gradual das espécies
por outras, por meio de adaptações a ambientes em contínuo processo de
mudança. Essa corrente de pensamento, transformista, explicava a adaptação como um processo dinâmico, ao contrário do que propunham os fixistas.
Para o transformismo, a adaptação é conseguida por meio de mudanças: à
medida que muda o meio, muda a espécie. Os adaptados ao ambiente em
mudança sobrevivem. Essa idéia deu origem ao evolucionismo.
Evolução biológica é a adaptação das espécies a meios em contínua mudança.
Nem sempre a adaptação implica aperfeiçoamento. Muitas vezes, leva a
uma simplificação. É o caso, por exemplo, das tênias, vermes achatados
parasitas: não tendo tubo digestório, estão perfeitamente adaptadas ao
parasitismo no tubo digestório do homem e de outros vertebrados.
Criacionismo: origem da vida por criação especial
Anterior às tentativas científicas relacionadas à
origem da vida, já era difundida a idéia de criação especial, segundo a
qual a vida é fruto da ação consciente de um Criador. Essa corrente de
pensamento, que passou a ser denominada criacionista, baseia-se na fé e
nos textos bíblicos – principalmente no livro de Gênesis – que relatam a
idéia sobre a origem da vida do ponto de vista religioso.
Ao longo da história, muitas controvérsias
chegaram a extremos por causa de uma interpretação errônea que não
levava em contra o contexto e o caráter muitas vezes poético e simbólico
dos textos da bíblia, que não tem nenhum objetivo científico. Assim,
principalmente na Idade Média, uma interpretação literal e, portanto,
limitada dos textos bíblicos era imposta como dogma e criava uma
barreira em relação a ciência que estava – e está – em constante
progresso.
O criacionismo, que se opõe à teoria da
evolução segundo a qual a vida teria surgido da matéria bruta, tem hoje
defensores, que se esforçam em demonstrar que os textos bíblicos,
tomados em seu contexto próprio, em nada contradizem as mais novas
descobertas científicas.
Mais recentemente surgiu uma nova concepção, mais próxima do criacionismo e que recebeu o nome design inteligente. Para os defensores dessa tese, uma mão divina moldou o curso da evolução. Isso porque, dizem, alguns sistemas biológicos são tão complexos e as diferenças entre as espécies são enormes demais para serem explicadas apenas pelo mecanismo da evolução. |
As evidências da evolução
O esclarecimento do mecanismo de atuação da
evolução biológica somente foi concretamente conseguido a partir dos
trabalhos de dois cientistas, o francês Jean Baptiste Lamarck (1744 – 1829) e o inglês Charles Darwin
(1809 – 1882). A discussão evolucionista, no entanto, levanta grande
polêmica. Por esse motivo é preciso descrever, inicialmente, as
principais evidências da evolução utilizadas pelos evolucionistas em
defesa de sua tese. Dentre as mais utilizadas destacam-se:
- os fósseis;
- a semelhança embriológica e anatômica existente entre os componentes de alguns grupos animais (notadamente os vertebrados),
- a existência de estruturas vestigiais e
- as evidências bioquímicas relacionadas a determinadas moléculas comuns a muitos seres vivos.
O que são fósseis?
Um fóssil (do latim fossilis, tirado da
terra) é qualquer vestígio de um ser vivo que habitou o nosso planeta em
tempos remotos, como uma parte do corpo, uma pegada e uma impressão
corporal. O estudo dos fósseis permite deduzir o tamanho e a forma dos
organismos que os deixaram, possibilitando a reconstrução de uma imagem,
possivelmente parecida, dos animais quando eram vivos.
Fossil de um dinossauro e de uma planta.
Processo de fossilização
Um fóssil se forma quando os restos mortais de um
organismo ficam a salvo tanto da ação dos agentes decompositores como
das intempéries naturais (vento, sol direto, chuvas, etc.). As condições
mais favoráveis a fossilização ocorrem quando o corpo de um animal ou
uma planta é sepultado no fundo de um lago e rapidamente coberto por
sedimentos.
Dependendo da acidez e dos minerais presentes no sedimento, podem ocorrer diferentes processos de fossilização. A permineralização,
por exemplo, é o preenchimento dos poros microscópicos do corpo de um
ser por minerais. Já a substituição consiste na lenta troca das
substâncias orgânicas do cadáver por minerais, transformando-o em pedra.
Gastrópode conservado por permineralização
Datação radioativa dos fósseis
A idade de um fóssil pode ser estimada através da
medição de determinados elementos radioativos presentes nele ou na
rocha onde ele se encontra.
Se um fóssil ainda apresenta substâncias
orgânicas em sua constituição, sua idade pode ser calculada com razoável
precisão pelo método do carbono-14. O carbono-14 (14C) é um isótopo radioativo do carbono (12C).
Os cientistas determinaram que a meia vida do
carbono-14 é de 5.740 anos. Isso significa dizer que, nesse período,
metade do carbono-14 de uma amostra se desintegra. Na hora da morte, um
organismo que se fossiliza contém determinada quantidade de 14C,
que os cientistas estima ser a mesma que a encontrada nos seres de
hoje. Passados 5.740 anos, restará no fóssil apenas metade da quantidade
de 14C presente na hora da morte. Ao fim de mais 5.740 anos, terá se
desintegrado a metade do que restou, e assim por diante, até que não
haja praticamente mais esse isótopo radioativo na matéria orgânica
remanescente.
Assim, através de medidas da quantidade residual
de carbono-14 em um fóssil, é possível calcular quanto tempo se passou
desde a morte do ser vivo que o originou. Por exemplo, se um fóssil
apresentar 1/8 do carbono radioativo estimado para um organismo vivo,
isso significa que sua morte deve ter ocorrido entre aproximadamente 22 e
23 mil anos.
Como a meia vida do carbono-14 é relativamente
curta, a datação por esse isótopo só serve para fósseis com menos de 50
mil anos. Para datar fósseis mais antigos, os “paleobiólogoa” utilizam
isótopos com meia-vida mais longa, que podem ser encontrados nas rochas
fossilíferas. Por exemplo, rochas que se formaram há alguns milhões de
anos podem ser datadas por meio do isótopo urânio-235 (235U),
cuja meia-vida é de 700 milhões de anos. Para rochas ainda mais
antigas, com centenas de milhões de anos de idade, pode-se usar o potássio-40, que tem meia vida de 1,3 bilhões de anos.
Anatomia comparada
A asa de uma ave, a nadadeira anterior de um
golfinho e o braço de um homem, ainda que muito diferentes, possuem
estrutura óssea e muscular bastante parecidas. A semelhança pode ser
explicada admitindo-se que esses seres tiveram ancestrais em comum, dos
quais herdaram um plano básico de estrutura corporal.
O parentesco evolutivo entre as aves e os
mamíferos, por exemplo, também permite explicar as semelhanças entre os
órgãos internos desses animais. O coração e o sistema circulatório e
nervoso, entre outros, são constituídos pelas mesmas partes básicas.
Semelhanças embrionárias
As semelhanças entre os embriões de determinados
grupos de animais são ainda maiores do que as semelhanças encontradas
nas formas adultas. por exemplo, é difícil distinguir embriões jovens de
peixes, sapos, tartarugas, pássaros e seres humanos, todos pertencentes
ao grupo dos vertebrados. Essa semelhança pode ser explicada se
levarmos em conta que durante o processo embrionário é esboçado o plano
estrutural básico do corpo, que todos eles herdaram de um ancestral
comum.
Órgãos ou estruturas homólogos
Certos órgãos ou estruturas se desenvolvem de
modo muito semelhante nos embriões de todos os vertebrados. São os
órgãos homólogos. Apesar de terem a mesma origem embrionária, os órgãos
homólogos podem ter funções diferentes, como é o caso do braço humano e
da asa de uma ave, por exemplo.
Órgãos ou estruturas análogos
Se dois órgãos ou estruturas desempenham a mesma
função, mas têm origem embrionária diferente, são chamados análogos. As
asas de aves e de insetos, por exemplo, são estruturas análogas: ambas
servem para voar, porém suas origens embrionárias são totalmente
distintas.
Órgãos vestigiais
Órgãos vestigiais são estruturas atrofiadas, sem função evidente no organismo. O apêndice cecal
do intestino humano, por exemplo, é um órgão vestigial. Esse órgão é
uma pequena projeção do ceco (região do intestino grosso) e não
desempenha nenhuma função importante no homem e nos animais carnívoros.
Já nos herbívoros, o apêndice é muito desenvolvido e tem importante
papel na digestão da celulose; nele vivem microorganismos que atuam na
digestão dessa substância.
Tudo indica que os mamíferos atuais, carnívoros e
herbívoros, tiveram ancestrais comuns, cuja dieta devia ser baseada em
alimentos vegetais, ricos em celulose. Entretanto, no decorrer da
evolução, cecos e apêndices deixaram de ser vantajosos para alguns
grupos de organismos, nos quais se encontram reduzidos, como vestígios
de sua origem.
São exemplos, também, de estruturas vestigiais a vértebra coccígea, a membrana nictitante e os músculos das orelhas.
Será que os Homens descendem dos macacos?
Um dos argumentos usados para defender o evolucionismo é o da
Anatomia Comparada. Na imagem que se segue podemos verificar a
existência de órgãos homólogos (órgãos que têm a mesma
origem, a mesma estrura básica e posição idêntica no organismo, podendo
desempenhar funções diferentes) entre o homen e outro primata.
Evidências moleculares da evolução
A comparação entre moléculas de DNA de diferentes
espécies tem revelado o grau de semelhança de seus genes, o que mostra o
parentesco evolutivo. O mesmo ocorre para as proteínas que, em última
análise, refletem as semelhanças e diferenças genéticas.
O citocromo c é uma proteína
presente em todos os seres vivos que fazem respiração aeróbica, sendo
constituído por 104 aminoácidos encadeados. A porcentagem de cada tipo
de aminoácido presente nessa proteína varia nas diferentes espécies de
organismos e está relacionada com a proximidade evolutiva entre as
espécies. O citocromo c surgiu, como provavelmente, nos
primórdios da vida na Terra, quando os primeiros seres vivos passaram a
utilizar a respiração como processo para obtenção de energia. Hoje essa
proteína apresenta pequenas variações em cada grupo de organismos, nas
quais devem ter se estabelecido ao longo do processo evolutivo.
A variação da estrutura primária de uma
determinada proteína, em diferentes espécies, revela indiretamente suas
diferenças genéticas uma vez que o código para a proteína está escrito
nos genes.
Semelhanças entre moléculas de DNA
Os recentes avanços da Biologia Molecular têm
permitido comparar diretamente a estrutura genética de diferentes
espécies, através da comparação das seqüências de nucleotídeos presentes
nas moléculas de DNA.
Os resultados das análises bioquímicas têm
confirmado as estimativas de parentesco entre espécies obtidas por meio
do estudo de fósseis e anatomia comparada. Isso reforça ainda mais a
teoria de que os seres vivos atuais resultam da evolução de seres vivos
que viveram no passado, estando todos os seres vivos relacionados por
graus de parentescos mais ou menos distantes.
O homem descende do macaco?
Na polêmica apresentação de seu trabalho a
respeito do processo de seleção natural e da origem das espécies, Darwin
foi acusado de defender a tese de que o homem descendeu dos macacos.
Será que isso é verdade? A acusação é injustificada. Darwin nunca
afirmou isso. O que ele procurava esclarecer era o fato de que todas as
espécies viventes, inclusive a humana, teriam surgido por meio de um
longo processo de evolução a partir de seres que o antecederam. Nesse
sentido, homens e chipanzés, que tiveram um ancestral comum, seriam
“primos em primeiro grau”, fato que provocou a ira de muitos oponentes
de Darwin. E não é que o assunto pode ser agora esclarecido, com uma
fascinante descoberta na formação Chorora, na Etiópia central?
Um grupo de cientistas etíopes e japoneses
encontrou restos fossilizados, na verdade oito dentes; de uma nova
espécie de macaco – batizada com o nome Chororapithecus abyssinicus
(ou macaco abissínico de Chorora) – que viveu a cerca de 10 milhões de
anos e está sendo considerado o mais velho parente dos gorilas.
Explicando melhor: até agora, os
cientistas acreditavam que os gorilas, ao longo da evolução, tivessem se
separado dos chimpanzés bem mais tarde. E, depois disso, teria havido a
separação das linhagens que originaram os chimpanzés e os hominídeos
(família a que pertence a espécie humana). Agora, com essa nova
descoberta, tudo leva a crer que a origem do homem é mais antiga, cerca
de 9 milhões de anos. E, para completar, essa descoberta é um forte apoio da origem africana tanto dos humanos quanto dos grandes macacos modernos.
Para aqueles que acreditam na evolução biológica,
descobertas como essa ajudam a esclarecer a origem dos seres humanos.
E, também, a desfazer os mitos baseados em acusações infundadas.
As idéias de Lamarck
Lamarck, naturalista francês, foi o primeiro a
propor uma teoria sintética da evolução. Sua teoria foi publicada em
1809, no livro Filosofia Zoológica. Ele dizia que formas de
vida mais simples surgem a partir da matéria inanimada por geração
espontânea e progridem a um estágio de maior complexidade e perfeição.
Em sua teoria, Lamarck sustentou que a progressão dos organismos era guiada pelo meio ambiente: se o ambiente sofre modificações, os organismos procuram adaptar-se a ele.
Nesse processo de adaptação, um ou mais órgãos são mais usados do que outros. O uso ou o desuso
dos diferentes órgãos alterariam características do corpo, e estas
características seriam transmitidas para as próximas gerações. Assim, ao longo do tempo os organismos se modificariam, podendo dar origem as novas espécies.
Segundo Lamarck, portanto, o princípio evolutivo estaria baseado em duas leis fundamentais:
Lei do uso ou desuso:
no processo de adaptação ao meio, o uso de determinadas partes do corpo
do organismo faz com que elas se desenvolvam, e o desuso faz com que se
atrofiem;
Um exemplo clássico da lei do uso e do
desuso é o crescimento do pescoço da girafa. Segundo Lamarck: Devido ao
esforço da girafa para comer as folhas das arvores mais altas o pescoço
do mesmo acabou crescendo.
Lei da transmissão dos caracteres adquiridos: alterações no corpo do organismo provocadas pelo uso ou desuso são transmitidas aos descendentes.
Vários são os exemplos de abordagem lamarquista
para a evolução. Um deles se refere às aves aquáticas, que se teriam
tornado pernaltas devido ao esforço que faziam para esticar as pernas e
assim evitar molhar as pernas durante a locomoção na água. A cada
geração esse esforço produziria aves com pernas mais altas, que
transmitiam essa característica à geração seguinte. Após várias
gerações, teriam sido originadas as atuais aves pernaltas.
Na época, as idéias de Lamarck foram rejeitadas,
não porque falavam na herança das características adquiridas, mas por
falarem em evolução. Não se sabia nada sobre herança genética e
acreditavam-se que as espécies eram imutáveis. Somente muito mais tarde
os cientistas puderam contestar a herança dos caracteres adquiridos. Uma
pessoa que pratica atividade física terá musculatura mais desenvolvida,
mas essa condição não é transmitida aos seus descendentes.
Mesmo estando enganado quanto às suas
interpretações, Lamarck merece ser respeitado, pois foi o primeiro
cientista a questionar o fixismo e defender idéias sobre evolução. Ele introduziu também o conceito da adaptação dos organismos ao meio, muito importante para o entendimento da evolução.
Quadro comparativo das idéias de Lamarck e Darwin
Um pouco da História do Darwinismo
A viagem de Darwin ao redor do mundo
Muitas das observações que levaram Charles Darwin a elaborar sua teoria evolucionista ocorreram durante a viagem ao redor do mundo, como naturalista do navio inglês H. S. S. Beagle.
Durante os cinco anos que durou a viagem, iniciada em 1831, Darwin
visitou diversos locais da America do Sul (inclusive o Brasil) e da
Austrália, além de vários arquipélagos tropicais.
Durante a viagem do Beagle, Darwin fez
escavações na Patagônia, onde encontrou fósseis de mamíferos já
extintos. Darwin descobriu o fóssil de um animal gigantesco, com a
organização esquelética muito semelhante à dos tatus que hoje habitam o
continente sul-americano.
Nas ilhas Galápagos, um conjunto de ilhas
pequenas e áridas, situadas no Oceano Pacífico a cerca de 800 Km da
costa do Equador, Darwin encontrou uma fauna e uma flora altamente
peculiares, que variavam ligeiramente de ilha para ilha.
Darwin se torna adepto do evolucionismo
Darwin só se tornou verdadeiramente evolucionista
vários meses após regressar de sua viagem, em cerca de 1837. Só então,
pode compreender o significado evolutivo de suas observações em
Galápagos e em outros locais ao rever suas anotações e submeter o
material coletado na viagem a diversos especialistas.
A pergunta que Darwin se fazia era: se
os animais e plantas tinham sido criados tal e qual se apresentam hoje,
porque razão espécies distintas, mas notadamente semelhantes, como as
de pássaros e tartarugas de Galápagos, foram colocadas pelo criador e
ilhas próximas, e não distribuídas homogeneamente pelo mundo? Era
realmente surpreendente que ilhas de clima e condições físicas
semelhantes, mas distantes uma das outras (como Galápagos e Cabo Verde,
por exemplo) não tivessem espécies semelhantes.
Darwin acabou concluindo que a
flora e a fauna de ilhas próximas são semelhantes porque se originam de
ancestrais comuns, provenientes dos continentes próximos. Em cada uma
das ilhas, as populações colonizadoras sofrem adaptações específicas,
originando diferentes variedades de espécies. Por exemplo, as
diversas espécies de pássaros fringilídeos de Galápagos provavelmente se
originaram de uma única espécie ancestral oriunda do continente
sul-americano. A diversificação da espécie original, que teria originado
as diferentes espécies atuais, deu-se como resultado às diferentes
ilhas do arquipélago.
Idéias e pessoas que influenciaram Darwin
Darwin foi influenciado pelos trabalhos de cientistas famosos, como o astrônomo John Herschel (1792–1871) e o naturalista e viajante Alexandr Humboldt
(1767–1835). Este último foi responsável, segundo o próprio Darwin,
pelo impulso de viajar a terras desconhecidas em expedições científicas.
O trabalho do geólogo e amigo Charles Lyell (1797 – 1875) também marcou o estudo de Darwin. Além de levar uma cópia do Princípios de Geologia, de Lyell, em sua viagem a bordo de Beagle, as primeiras anotação de viagem de Darwin eram sobre os temas de geologia.
Malthus
Darwin também aponta a influência das idéias do vigário inglês Thomas R. Malthus
(1766 – 1834) na elaboração do conceito de seleção natural. Em 1798,
Malthus sugeriu que a principal causa da miséria humana erro o
descompasso entre o crescimento das populações e a produção de
alimentos. Disse ele: “O poder da população é infinitamente maior do que
poder da terrade produzir os meios de subsistência para o homem. A
população, se não encontra obstáculos, cresce de acordo com uma
progressão aritmética”.
Malthus não se referiu apenas às populações
humanas, mas tentou imaginar a humanidade submetida às mesmas leis
gerais que regem populações de outras espécies de seres vivos. Esse foi
um dos méritos de seu trabalho, que chamou a atenção de Darwin para as
idéias de “luta pela vida” e “sobrevivência dos mais aptos”.
Segundo Malthus, enquanto o
crescimento populacional se dá em progressão geométrica, a produção de
alimentos aumenta em progressão aritmética. Isso seria uma das
explicações para a fome que assola boa parte da humanidade. Essas e
outras conclusões constam em seu Ensaio sobre a lei da população, de 1798.
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Seleção artificial
Um dos argumentos apresentados por Darwin em
favor da seleção dos mais aptos baseou-se no estudo das espécies
cultivadas pelo homem. Sabia-se que pelo menos alguns animais domésticos
e vegetais cultivados pertenciam a espécie com representantes ainda em
estado selvagem. Os exemplares domésticos, entretanto, diferiam em
tantas características dos selvagens que podiam, quanto ao seu aspecto
geral, até ser classificados como espécies diferentes.
Darwin se dedicou à criação de pombos, cujas as
variedades domésticas eram sabidamente originadas de uma única espécie
selvagem, a Columba livia, a partir da seleção artificialmente
conduzida pelos criadores. Sua conclusão foi que a seleção artificial
podia ser compara àquela que a natureza exercia sobre as espécies
selvagens.
Da mesma forma que o homem
seleciona reprodutores de uma determinada variedade ou raça, permitindo
que apenas os que têm a característica desejadas se reproduzam, a
natureza seleciona, nas espécies selvagens, os indivíduos mais adaptados
às condições reinantes. Estes deixam um número proporcionalmente maior
de descendentes, contribuindo significativamente para a formação da
geração seguinte.
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A publicação da teoria de Darwin
Em 1844, Darwin escreveu um longo trabalho sobre a
origem das espécies e a seleção natural. Não o publicou, porém, porque
tinha receio de que suas idéias fossem um tanto revolucionárias. Amigos
de Darwin, conhecedores da seriedade de seu trabalho, tentaram
inutilmente convencê-lo a publicar o manuscrito antes que outros
publicassem idéias semelhantes.
A teoria selecionista de Wallace
Em junho de 1858, Darwin recebeu uma carta do
naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823 – 1913), que continha
conclusões fundamentalmente semelhantes às suas. Wallace havia estudado
as faunas da Amazônia e das Índias Orientais, chegando à conclusão de
que as espécies se modificavam por seleção natural. Darwin ficou
assombrado com as semelhanças do trabalho de Wallace em relação ao seu
próprio trabalho, entre outras coisas pelo fato de Wallace ter também se
inspirado em uma mesma fonte não biológica, o livro de Malthus, Ensaio sobre a lei da população.
Darwin escreveu, então, um resumo de suas idéias,
que foram publicadas juntamente com o trabalho de Wallace, em 1º de
julho de 1858. Um ano mais tarde, Darwin publicou o trabalho completo no
livro A origem das espécies. As anotações de Darwin
confirmaram que ele concebeu a sua teoria de evolução cerca de 15 anos
antes de ter recebido a carta de Wallace, e este admitiu que Darwin
tinha, realmente, sido o pioneiro.
Seleção Natural
A ação da seleção natural
consiste em selecionar indivíduos mais adaptados a determinada condição
ecológica, eliminando aqueles desvantajosos para essa mesma condição.
A expressão mais adaptado refere-se à maior probabilidade de determinado indivíduo sobreviver e deixar descendentes em determinado ambiente.
A seleção natural atua permanentemente sobre
todas as populações. Mesmo em ambientes estáveis e constantes, a seleção
natural age de modo estabilizador, está presente, eliminando os
fenótipos desviantes.
Entretanto, o ambiente não representa um sistema
constante e estável, quer ao longo do tempo, quer ao longo do espaço, o
que determina interações diferentes entre os organismos e o meio.
Essa heterogeneidade propicia diferentes pressões
seletivas sobre o conjunto gênico da população, evitando a eliminação
de determinados alelos que, em um ambiente constante e estável, não
seriam mantidos. Dessa forma, a variabilidade genética sofre menor
redução.
É o que acontece com a manutenção na população
humana de certos alelos que normalmente seriam eliminados por serem
pouco adaptativos. Um exemplo é o alelo que causa uma doença chamada anemia falciforme ou siclemia.
Essa doença é causada por uma alelo que
condiciona a formação de moléculas anormais de hemoglobina com pouca
capacidade de transporte de oxigênio. Devido a isso, as hemácias que as
contêm adquirem o formato de foice quando a concentração de oxigênio
diminui. Por essa razão são chamadas hemácias falciformes.
Os heterozigóticos apresentam tanto hemácias e hemoglobinas normais como hemácias falciformes. Apesar de ligeiramente anêmicos, sobrevivem, embora com menor viabilidade em relação aos homozigóticos normais.
Em condições ambientais normais, o alelo para
anemia falciforme sofre forte efeito seletivo negativo, ocorrendo com
baixa freqüência nas populações. Observou-se, no entanto, alta
freqüência desse alelo em extensas regiões da África, onde há grande
incidência de malária.
Essa alta freqüência deve-se à vantagem dos
indivíduos heterozigotos para anemia falciforme, pois são mais
resistentes à malária. Os “indivíduos homozigóticos normais” correm alto
risco de morte por malária enquanto os “indivíduos homozigóticos para a
anomalia” morrem de anemia. Os heterozigóticos, entretanto, apresentam,
sob essas condições ambientais, vantagem adaptativa, propiciando a alta
taxa de um alelo letal na população.
Exemplos de seleção natural
Resistência a antibióticos ou a inseticidas
A resistência de bactérias a antibióticos e de insetos a inseticidas têm aumentado muito nos últimos anos, havendo sempre a necessidade de se desenvolverem novos antibióticos e novos inseticidas.
Tomemos como
exemplo a resistência a antibióticos. Para isso imaginemos inicialmente a
existência de indivíduos adaptados a determinada condição ambiental. Se
introduzirmos nesse ambiente certa quantidade de antibiótico, haverá
grande mortalidade de bactérias, mas algumas, que já apresentavam
mutações que lhes conferem resistência a essa substância sobreviverão.
Estas, por sua vez, ao se reproduzirem originarão indivíduos com
características distribuídas em torno de outro tipo médio.
Se esses indivíduos forem submetidos a
doses mais alta desse mesmo antibiótico, novamente haverá alta
mortalidade e sobreviverão apenas os que já tiverem condições genéticas
para resistir a doses mais altas do remédio. Repetindo-se o
procedimento, será possível obter populações cada vez com mais
indivíduos resistentes ao antibiótico em questão, podendo ocorrer um
deslocamento da média das características no sentindo da maior
resistência a determinada substância.
|
Coloração de advertência
Alguns animais produzem ou acumulam substâncias
químicas nocivas e apresentam coloração vistosa, chamada coloração de
advertência , sinalizando que eles não devem ser ingeridos. Quem tenta
se alimentar de um desses organismos aprende a não comer outro
semelhante.
A cobra coral e a rã de cores vibrantes acima possuem um veneno muito perigoso.
Um exemplo é a borboleta-monarca, que possui
coloração laranja e preta muito vistosa, sendo um animal facilmente
visível no ambiente. Essa espécie de borboleta produz substâncias que as
tornam não-palatáveis aos seus predadores. Eles aprendem a associar o
padrão de coloração ao sabor desagradável e evitam capturar essas
borboletas.
O Melanismo Industrial
Antes da industrialização da Inglaterra,
predominavam as mariposas claras; mas as vezes apareciam mutantes
escuros, dominantes, que, apesar de serem mais robustos, eram eliminados
pelos predadores por serem visíveis. Depois da industrialização, no
século passado, os mutantes escuros passaram a ser mimetizados pela
fuligem. Estes passaram a ser menos predados, por estarem "escondidos", o
que aumentou a sua freqüência na população. Os predadores das
mariposas, como por exemplo, os passaros atuam como agentes seletivos.
Camuflagem e mimetismo
A ação da seleção natural também é verificada no
estabelecimento de características que tornam os organismos semelhantes a
outros ou a objetos do ambiente, de modo que passam despercebidas de
seus predadores ou estes às suas presas.
Falsa coral e coral verdadeira.
É o caso de certos animais que são menos
predados, pois, por seleção natural, passam a ter uma coloração que os
torna imperceptíveis no meio, combinando seu padrão de cor com o do
ambiente: cascas de árvores, cor da areia galhos e folhas, por exemplo.
Por outro lado, certos predadores também podem
apresentar a cor do meio de modo que a presa não percebe a sua presença e
é mais facilmente capturada.
Além da cor, certos animais passam a ter também
por seleção natural, a forma e a cor de estruturas do meio onde vivem. É
o caso dos insetos bicho-folha e bicho-pau, que se assemelham a folhas e
gravetos respectivamente. Esses casos são chamados de camuflagem.
Bicho-folha e Bicho-pau
A teoria sintética da evolução
De 1900 até cerca de 1920, os adeptos da genética
mendeliana acreditavam que apenas as mutações eram responsáveis pela
evolução e que a seleção natural não tinha importância nesse processo.
Depois disso vários cientistas começaram a conciliar as idéias sobre seleção natural com os fatos da Genética, o que culminou com a formulação da Teoria sintética da evolução, às vezes chamada também de Neodarwinismo.
Conforme Darwin já havia proposto, essa teoria
considera a população como a unidade evolutiva. Uma população pode ser
definida como um grupamento de indivíduos da mesma espécie que ocorrem
em uma mesma área geográfica, em um mesmo intervalo de tempo.
Cada população apresenta determinado conjunto
gênico, que pode ser alterado de acordo com fatores evolutivos. O
conjunto gênico de uma população é o conjunto de todos os genes
presentes nessa população. Assim, quanto maior for o conjunto gênico da
população, maior será a variabilidade genética.
Os principais fatores evolutivos que atuam sobre o conjunto gênico da população podem ser reunidos em duas categorias:
- fatores que tendem a aumentar a variabilidade genética da população – mutação e permutação;
- fatores que atuam sobre a variabilidade genética já estabelecida – migração, deriva genética e seleção natural.
Sabe-se que uma população está evoluindo quando
se verificam alterações na freqüência de seus genes. Atualmente
considera-se a evolução como o conceito central e unificador da
Biologia, e uma frase marcante que enfatiza essa idéia foi escrita pelo
cientista Dobzhansky: “Nada se faz em biologia a não ser à luz da evolução”.
Bases genéticas da evolução
A mutação cria novos genes, e a recombinação os
mistura com os genes já existentes, originando os indivíduos
geneticamente variados de uma população. A seleção natural, por sua vez,
favorece os portadores de determinados conjuntos gênicos adaptativos,
que tendem a sobreviver e se reproduzir em maior escala que outros. Em
função da atuação desses e de outros fatores evolutivos, a composição
gênica das populações se modifica ao longo do tempo.
Mutações
As mutações podem ser cromossômicas ou gênicas.
As mutações cromossômicas podem ser alterações no número ou na forma dos
cromossomos. As mutações gênicas originam-se de alterações na seqüência
de bases nitrogenadas de determinado gene durante a duplicação da
molécula de DNA. Essa alteração pode ocorrer por perda, adição ou
substituição de nucleotídeos, o que pode originar um gene capaz de
codificar uma proteína diferente da que deveria ter sido codificada.
As mutações gênicas são consideradas as fontes
primárias da variabilidade, pois aumentam o número de alelos disponíveis
em um lócus, incrementando um conjunto gênico da população. Embora
ocorram espontaneamente, podem ser provocados por agentes mutagênicos,
como radiações e certas substâncias químicas (a droga ilegal LSD, por
exemplo).
As mutações não ocorrem para adaptar o indivíduo
ao ambiente. Elas ocorrem ao acaso e, por seleção natural, são mantidas
quando adaptativas (seleção positiva) ou eliminadas em caso contrário
(seleção negativa). Podem ocorrer em células somáticas ou em células
germinativas; neste último caso as mutações são de fundamental
importância para a evolução, pois são transmitidas aos descendentes.
O conceito de população mendeliana
Na linguagem diária, o termo “população” é muito
empregado em contextos geográficos ou ecológicos para se referir à
população de uma cidade, de um país ou de um determinado ambiente
natural. Em genética, no entanto, usa-se uma definição mais específica:
População é um conjunto de indivíduos que se reproduzem sexuadamente, compartilhando um patrimônio gênico comum.
Essa definição foi proposta em 1950 por Theodosius Dobzhansky (1900-1975) e caracteriza o que se convencionou chamar população mendeliana, por aludir ao aspecto genético.
Em uma população mendeliana, com exceção dos
gêmeos univitelinos, os indivíduos são diferentes um dos outros em uma
serie de características. Cada indivíduo possui seu conjunto gênico particular, diferente do conjunto gênico de todos os demais membros da população.
Migração
A migração corresponde à entrada ou à saída de indivíduos em uma população. A entrada denomina-se imigração e a saída emigração.
Pelos processos migratórios é possível que genes
novos sejam introduzidos em uma população. Assim, se indivíduos
emigrarem de uma população para a outra da mesma espécie, poderão
introduzir genes que não ocorriam na população para a qual imigraram,
contribuindo para o aumento da variabilidade genotípica dessa população.
Por meio das migrações é estabelecido um
fluxo gênico, que tende a diminuir as diferenças genéticas entre as
populações da mesma espécie.
Estimando freqüências gênicas em populações
Considere uma par de alelos A e a. Em uma população hipotética de 10.000 indivíduos, suponha que 3.600 sejam homozigotos AA, 1600 sejam homozigotos aa e 4.800 sejam heterozigotos Aa.
Nessa população há um total de 20.000 alelos do loco gênico considerado, uma vez que cada indivíduo apresenta um par deles.
O número de alelos A é 12.000, pois os 3.600 indivíduos homozigotos AA apresentam um total de 7.200 alelos A, e os 4.800 heterozigotos Aa apresentam um total de 4800 alelos A (7.200 + 4.800 = 12.000).
AA
|
3.600
|
A = 3.600
|
12.000
|
20.000
|
A = 3.600
|
||||
Aa
|
4.800
|
A = 4.800
|
||
a = 4.800
|
8.000
|
|||
aa
|
1.600
|
a = 1.600
|
||
a = 1.600
|
A freqüência de A é calculada dividindo-se o número total de alelos A (12.000) pelo número total de pares de alelos da população considerada (20.000). Portanto, nesse caso, a freqüência de A é igual a 0,6 ou 60% (f(A) = 12.000/20.000 = 0,6).
A freqüência do alelo a pode ser calculada da mesma maneira. Os 1.600 indivíduos homozigotos aa apresentam um total de 3.200 alelos a, e os 4800 heterozigotos Aa apresentam 4800 alelos a, totalizando 8.000 genes. Portanto, a freqüência de a é igual a 0,40 ou 40% (f(a) = 8.000/20.000 = 0,4).
Alelos
|
Nº total de alelos
|
Nº total de alelos na população considerada
|
Freqüência dos alelos na população
|
A
|
12.000
|
20.000
|
12.000/20.000 = 0,6
|
a
|
8.000
|
8.000/20.000 = 0,4
|
O segundo cálculo é desnecessário, uma vez que a
soma das freqüências dos alelos de um loco, em uma população, é sempre
igual a 1. No caso:
f(A) + f(a) = 1 ou 100%
Utilizando no exemplo:
0,6 + 0,4 = 1
Conseqüentemente:
f(a) = 1-f(A)
Utilizando no exemplo:
f(a) = 1- 0,6
f(a) = 0,4
O princípio de Hardy-Weinberg
Em 1908 o matemático inglês Godfrey H. Hardy (1877 – 1947) e o médico alemão Wilhem Weinberg
concluíram que, se nenhum fator evolutivo atuasse sobre uma população
que satisfizesse certas condições, as freqüências de seus alelos
permaneceriam inalteradas ao longo das gerações. Esse princípio ficou
conhecido como lei ou teorema de Hardy-Weinberg ou princípio do equilíbrio gênico.
Condições para o equilíbrio de Hardy-Weinberg
As condições necessárias para que uma população se mantenha em equilíbrio gênico, segundo Hardy e Weinberg, são as seguintes:
- A população deve ser muito grande (teoricamente, quanto maior, melhor), de modo que possam ocorrer todos os tipos de cruzamento possíveis , de acordo com as leis de probabilidades.
- A população deve ser panmítica (do grego pan, todos, e do latim miscere, misturar), isto é os cruzamentos entre indivíduos de diferentes genótipos devem ocorrer ao acaso, sem qualquer preferência.
Uma população que possua essas características, e
na qual não ocorra nenhum fator evolutivo, tais como mutação, seleção
ou migração, permanecerá em equilíbrio gênico, ou seja, as freqüências
dos alelos não sofrem alteração ao longo das gerações.
A expressão do equilíbrio gênico
Suponhamos uma população em equilíbrio gênico, na qual as freqüências dos alelos A e a
(não-ligados ao sexo) são respectivamente, 80% e 20% (0,8 e 0,2).
Sabendo-se que cada gameta porta apenas um alelo de cada gene,
conclui-se que 80% dos gametas produzidos pelos membros dessa população
serão portadores do alelo A, e que 20% serão portadores do alelo a.
Um indivíduo homozigoto AA se forma quando um gameta masculino portador de um alelo A fecunda um gameta feminino também portador de um alelo A.
A probabilidade de esse evento acontecer é igual ao produto das
freqüências com que ocorrem esses tipos de gametas. Assim a
probabilidade de se formar um indivíduo AA é 0,64 ou 64%.
f(A) x f(A) = 0,8 x 0,8 = 0,64 ou 64%
Um indivíduo homozigoto aa, por
sua vez, se origina quando dois gametas a se encontram. A probabilidade
de esse evento ocorrer é igual ao produto das freqüências com que
ocorreram esses gametas. A probabilidade de se formar um indivíduo aa é 0,04 ou 4%.
f(a) x f(a) = 0,2 x 0,2 = 0,04 ou 4%
Um indivíduo heterozigoto Aa se forma quando um gameta masculino A fecunda um gameta feminino a, ou quando um gameta masculino a fecunda um gameta feminino A. A probabilidade desses eventos ocorrerem é 0,32 ou 32%.
f(A) x f(a) + f(a)x f(A) = 0,8 x 0,2 + 0,2 x 0,8 = 0,32 ou 32%
Se denominarmos p a freqüência do alelo
dominante, e q a freqüência do alelo recessivo, podemos escrever que a
freqüência de indivíduos AA é igual a p2, a freqüência de indivíduos aa é igual a q2, e a de indivíduos heterozigotos Aa é igual a 2pQ. Veja por quê:
Freqüência dos alelos nos gametas masculinos
p = f(A) q = f(a)
|
|||
Freqüência dos alelos dos gametas femininos
|
p = f(A)
q = f(a)
|
p2 = f(AA)
|
pq = f(Aa)
|
qp = f(aA)
|
q2 = f(AA)
|
A soma das freqüências dos diferentes genótipos será igual a 1 ou 100%.
p2 + 2 pq + q2 = 1
[f(AA)] [f(Aa) + f(aA)] [f(aa)]
O princípio de Hardy-Weinberg estabelece que, para um determinado par de alelos com freqüências p e q,
em uma população mendeliana em equilíbrio, a freqüência dos diferentes
genótipos em cada geração estará de acordo com a expressão p2 + 2pq + q2 = 1.
Importância do princípio de Hardy-Weinberg
O princípio de Hardy-Weinberg estabelece um padrão teórico para o comportamento gênico ao longo das gerações. Na
prática, ele nos ajuda a perceber se uma população se encontra ou não
em equilíbrio, chamando a atenção para os possíveis fatores evolutivos
que estão atuando.
O geneticista F. J. Ayala (1934), da Universidade
de Califórnia (EUA), compara o princípio de Hardy-Weinberg com a
primeira lei da mecânica de Newton, segundo o qual um corpo em movimento
mantém constante sua velocidade enquanto não houver intervenção de
nenhuma força externa. Os corpos sempre estão sujeitos a forças
externas, mas a lei de Newton é um ponto de partida teórico, importante
para compreensão da Mecânica. O princípio de Hardy-Weinberg diz que na
ausência de fatores evolutivos as freqüências gênicas se mantêm
constantes em uma população teórica. Sempre há fatores evolutivos em
ação nas populações reais. No entanto a lei de Hardy-Weinberg é
importante porque permite determinar quanto e como o equilíbrio de uma
população está sendo afetado pelos fatores evolutivos.
Fatores que alteram o equilíbrio gênico
Os principais fatores que afetam o equilíbrio gênico são a mutação, a migração, a seleção e a deriva gênica.
Mutação e frequências gênicas
A mutação, processo pelo qual um alelo se
transforma em outro, pode alterar a frequência gênica de uma população.
Se a taxa de mutação de um gene A para seu alelo a for maior do que a taxa de mutação inversa (a à A), ocorrerá aumento na freqüência do alelo a e a diminuição na frequência de A.
Migração e frequências gênicas
As diferentes populações de uma mesma espécie nem
sempre são isoladas. Indivíduos podem migrar, incorporando-se a uma
população (imigração) ou saindo dela (emigração)
As migrações podem alterar a constituição gênica
de uma população. Por exemplo, se uma população constituída apenas por
pessoas de olhos azuis migrar para uma região onde a maioria das pessoas
tenham olhos castanhos, haverá aumento da freqüência do alelo que
condiciona olhos azuis e diminuição correspondente na freqüência do
alelo que condiciona olhos castanhos.
Seleção e frequências gênicas
Dependendo de sua constituição gênica, um indivíduo pode apresentar maior ou menor chance de sobreviver e se reproduzir.
Um exemplo disso é o melanismo industrial.
Mariposas portadoras de genótipo para a cor escura são mais intensamente
caçadas pelos pássaros do que as mariposas claras, em áreas
não-poluídas. Por isso, a frequência do gene que condiciona cor escura
permanece baixa. Nas áreas poluídas ocorre o contrário: as mariposas
mais intensamente caçadas pelos pássaros são as de cor clara. Com isso,
aumenta a freqüência de mariposas escuras e a freqüência do alelo que
condiciona esta característica.
Deriva gênica
Desastres ecológicos, como incêndios florestais,
inundações, desmatamentos, etc., podem reduzir tão drasticamente o
tamanho de uma população que os poucos sobreviventes não são amostras
representativas da população original, do ponto de vista genético. Por
acaso, e não por critérios de adaptação, certos alelos podem ter a sua
freqüência subitamente aumentada, enquanto os outros alelos podem
simplesmente desaparecer. Esse fenômeno é denominado deriva gênica.
Princípio do fundador
Um caso extremo de deriva gênica é o chamado
princípio do fundador: uma nova população é “fundada” por um ou poucos
indivíduos, seja porque a população ancestral sofreu uma diminuição
drástica, seja porque um pequeno número de indivíduos de uma população
migrou para outra região, onde deu origem a uma nova população.
Nessas condições, os indivíduos que iniciaram a
nova população, por serem poucos, geralmente não constituem uma amostra
representativa da população original. Há casos em que uma única fêmea
grávida funda uma nova população. Essa fêmea obviamente não possuirá uma
amostra significativa dos diferentes tipos de alelos presentes na
população original.
A deriva gênica parece ter sido um fenômeno comum
na colonização de ilhas distantes dos continentes, às quais conseguem
chegar poucos indivíduos provenientes das populações continentais. Nas
ilhas, os “fundadores” iniciam populações cujas frequências gênicas são
geralmente bem diferentes das populações continentais originais.
Exemplo do princípio fundador no homem
Um exemplo do princípio do fundador na espécie
humana foi verificado em comunidades religiosas, originárias da
Alemanha, que se estabeleceram nos Estados Unidos. Devido a seus
costumes e religião, os membros dessas comunidades, chamadas Dunker,
mantiveram-se isolados da população norte-americana.
A análise da freqüência de alguns genes nos
membros da comunidade Dunker mostrou diferenças significativas tanto em
relação à população norte-americana quanto em relação à população alemã.
As diferenças de freqüência gênica na população Dunker não posem ser
atribuídas a fatores seletivos ambientais, pois esses também teriam
agido sobre a população norte-americana.
A explicação mais plausível é que os Dunker
norte-americanos, oriundos da Alemanha, não eram amostra representativa
da população alemã, no tocante às freqüências dos genes analisados. Nos
Estados Unidos, como eles se mantiveram isolados, suas freqüências
gênicas se mantiveram diferenciadas da população norte americana.
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao22.php
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