Redação ENEM 2015: Análise de Dissertação Nota Mil

Apostila preparatória para o concurso da prefeitura municipal do Natal


 
No texto de hoje analisaremos mais uma redação produzida no ENEM 2015 que obteve a pontuação máxima, ou seja, os 1.000 pontos tão almejados pelos candidatos. A dissertação-argumentativa foi escrita por Fábio Lopes Júnior, de 19 anos, de Assu, interior do Espírito Santo que conquistou, pelo ENEM, uma vaga no curso de Medicina na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Dói, um tapinha dói.
A Revolução Francesa foi responsável por levar ao mundo os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Desde lá, de fato, o movimento feminista busca a universalização dos direitos civis e sociais, promovida pela Revolução. Entretanto, é notório que os valores patriarcalistas, os quais consideram a mulher inferior ao homem, insistem em permear as diversas instâncias sociais brasileiras, inserindo a inverdade de um possível controle masculino sobre o corpo da mulher, o que desemboca em crimes de violência e assédio contra elas.
Nesse viés, a educação familiar e escolar oferecida aos meninos difere, ainda, da oferecida às meninas. Dessa maneira, é possível observar que desde pequenas, as crianças recebem valores conservadores que separam socialmente homens e mulheres por diferenças biológicas, oferecendo privilégios aos primeiros. Assim, quando adultos, os indivíduos ajudam a propagar o machismo, de modo que a superioridade idealizada pelo homem chega a passar despercebida pela sociedade civil, como a exemplo do sucesso obtido por músicas que incitam, claramente, a violência contra as mulheres.
Ademais, as políticas públicas de combate à violência doméstica e ao feminicídio, por exemplo, encontram dificuldades na falta de denúncias. Nesse contexto, os diversos assédios morais e físicos sofridos diariamente pelas mulheres não recebem a devida punição. Isso pode ser ilustrado pela campanha lançada nas redes sociais, em outubro de 2015, intitulada “#PrimeiroAssédio”, na qual as mulheres traziam à tona relatos de atos de violência masculina que não foram devidamente punidos.
Em suma, a violência contra a mulher é fruto de valores machistas persistentes na sociedade. Portanto, é necessário que a escola e as famílias, como agentes educadores, mostrem aos seus filhos que as diferenças biológicas entre homens e mulheres não são fatores de superioridade e inferioridade, consoante ao pensamento da filósofa iluminista Mary Wollstonecraft, “a mente não tem gênero”. Além disso, ONGs de defesa da mulher devem, por meio das redes sociais, apresentar as diversas formas [de] denúncia e os direitos garantidos a elas pela Constituição. Por fim, é importante que as grandes mídias apresentem em suas novelas e programas exemplos de mulheres bem-sucedidas e independentes de uma presença masculina, de modo a atenuar o machismo.
Disponível em http://temas.folha.uol.com.br/enem-nota-mil/redacoes-nota-mil/conquista-pela-ousadia.shtml. Acesso em 13/04/2016.
Sabemos que o título é uma marca compatível fundamental nas dissertações-argumentativas, porém, para o ENEM, é um item opcional. Apesar disso, continuamos afirmando que o título é, como dissemos, fundamental quando chama a atenção do leitor, despertando sua vontade de ler o texto ao já dar algum indício da opinião do autor.
E foi justamente isso que o Fábio Lopes Júnior fez em sua redação, a intitulando com uma alusão a um funk polêmico que, por sua vez, remete-se à violência contra a mulher. A música, em sua letra, afirma que “um tapinha não dói”; já Fábio, sabiamente, rebate essa afirmação dizendo que sim, um tapinha dói sim. Deste modo, o candidato usa uma letra de música antiga, porém, infelizmente, ainda atual, contradizendo-a e colocando-se, já no título, contrário à violência contra a mulher.
No primeiro parágrafo, Fábio introduz a luta dos movimentos feministas pela universalização dos direitos de gênero no contexto dos ideias da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. No entanto, o autor faz uma ressalva: os movimentos patriarcalistas insistem em afirmar que a mulher é inferior ao homem e que, por isso, este deve exercer um controle acerca do corpo e da vida da mulher, o que culmina em crimes de violência e assédio, pontuando o tema da proposta.
Ao abordar o controle do corpo, o candidato pode estar fazendo alusão à criminalização do aborto e à censura da sexualidade feminina, já que homens e mulheres são julgados de formas distintas quando o assunto é sexualidade. Obviamente, por motivos de espaço, o autor apenas pontou essas questões, já que quando há um limite de linhas, devemos escolher qual aspectos iremos abordar e deixar os outros de lado.
No segundo parágrafo, já no desenvolvimento, Fábio aborda a educação recebida, por meninos e meninas, em casa e na escola: uma educação conservadora, reacionária e machista pautada nas diferenças biológicas entre os gêneros, o que faz o machismo ser propagado por adultos que foram criados sob esta ótica. Segundo o candidato, é por isso que músicas como a aludida no título podem passar despercebidas pela sociedade, como uma mera brincadeira. E, assim, ele tece uma relação entre um argumento e seu título.
No terceiro parágrafo, Fábio acrescenta mais um problema ao combate à violência contra as mulheres: as dificuldades e a falta de denúncias que as políticas públicas, como a lei Maria da Penha, enfrentam no Brasil. Como consequência, há a falta das devidas punições. No entanto, pontua o candidato, as redes sociais mostram um caminho alternativo, como as campanhas #PrimeiroAssédio, na qual milhares de mulheres trouxeram à tona casos de assédios sexuais.
Ao citar tal campanha, Fábio demonstra o quanto está antenado ao tema da proposta de redação do ENEM 2015, sabendo considerar aspectos históricos, jurídicos, sociais e até tecnológicos.
Na conclusão, o candidato conclui que a violência contra a mulher é resultado dos valores machistas persistentes na sociedade. Deste modo, é preciso, segundo o autor, pararmos com essa persistência por meio da educação familiar e escolar, além da atuação do terceiro setor e da mídia na propagação de valores diferentes do machismo, a fim de atenuá-lo.
Portanto, temos um texto claro, objetivo, bem escrito, fluido e, de certa forma, simples, sem rebuscamentos que cumpre todas as competências avaliadas pela grade de correção do ENEM.
Até a próxima!


*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
  **Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas! Também é responsável pela criação da maioria dos temas do Curso de Redação do infoEnem



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