Em
muitos idiomas, há palavras primitivas e derivadas, estas criadas a
partir daquelas. Esse processo ocorre pelo fato de as línguas terem uma
estrutura dinâmica e se moldarem às necessidades de comunicação dos
falantes. Boa parte das palavras derivadas mantém evidente a relação com
as que lhes deram origem, como vemos nestas duplas:
- Legal x ilegal
- Normal x anormal
- Livro x livraria
- Criança x criançada
Há,
porém, situações que dificultam a vida dos usuários da Língua
Portuguesa, pois algumas palavras derivadas têm o hábito de ‘pregar
peças’ naqueles que precisam utilizá-las, mesmo em quem tem no Português
sua ferramenta de trabalho, como jornalistas. É o que acontece com
alguns verbos, principalmente aqueles que derivam de PÔR e TER!
Alguns
jornais já deixaram passar deslizes com frases em que estavam presentes
formas derivadas dessas duas palavrinhas, tão curtinhas, tão simples,
mas tão, tão… enganadoras!
Observemos o caso acima: o verbo MANTER é derivado do TER, portanto deve seguir o mesmo padrão de conjugação da palavra primitiva. No título da reportagem, a forma adequada é o Futuro do Subjuntivo,
uma vez que se trata de uma situação hipotética no futuro. E esse tempo
provém de uma forma do Pretérito Perfeito do Indicativo (para relembrar
essas estruturas de tempos verbais primitivos e derivados, veja o
artigo completo em https://www.infoenem.com.br/verbos-irregulares-algumas-dificuldades/ )
Dessa
forma, mesmo que os verbos tenham significados que se afastaram do
sentido do termo original, eles deverão seguir a conjugação do que lhe
deu origem, para não corrermos o risco de cometer deslizes assim:
- A polícia não deteu os criminosos.
O verbo DETER é derivado de TER, por isso, se ele TEVE, o correto é DETEVE.
- Foram chamados os que ainda não deporam na Operação Lava Jato.
Os derivados do verbo PÔR devem seguir sua conjugação. Se eles PUSERAM, o adequado é DEPUSERAM.
- O policial interviu na briga do casal.
Além
de um caso de aplicação da Lei Maria da Penha, se o agente “interviu”, é
o caso também de uma revisão gramatical. O verbo INTERVIR deve seguir a
conjugação do verbo VIR. Se ele VEIO, “o policial INTERVEIO na briga”.
Ele não tinha intervido no caso.
Mais
um caso de omissão gramatical, além da omissão de socorro. O particípio
do verbo VIR é VINDO (igual ao gerúndio). O correto, portanto, é “Ele
não tinha INTERVINDO no caso”.
Margarida Moraes
é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Com mais de
20 anos de experiência, corretora do nosso Curso de Redação Online (clique aqui
para saber mais) e responsável pela resolução das apostila de
Linguagens e Códigos do infoEnem, a professora é colunista de gramática
do nosso portal. Seus textos são publicados todos os domingos. Não
perca!
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