Possíveis Temas de Redação – A Sociedade do Cansaço

Do infoenem
 
Sabemos que o infoEnem é lido por inúmeras pessoas e este grupo de leitores não é constituído apenas pelos candidatos ao ENEM, mas também por candidatos de outros vestibulares, já que, normalmente, quem presta o Exame Nacional do Ensino Médio também presta outras provas.
Pensando nestes leitores, achamos interessante e útil publicarmos prováveis temas de provas de redação de outros vestibulares e não só temas possíveis de serem temas de redação do ENEM; além disso, conhecimento e informação nunca são demais.

Há vestibulares cujas provas de redação são conhecidas por apresentarem temas de cunho filosófico e psicológico, nem sempre voltados, de maneira prática, à sociedade. Existem, ainda, vestibulares que mesclam temas de cunho social com temas de cunho filosófico e, portanto, o candidato deve estar atento a esse fato a fim de preparar-se para escrever sobre qualquer tema e, para isso, conhecer as provas de redação já aplicadas é fundamental. Já em relação ao ENEM, até agora, nenhuma edição do exame apresentou um tema de redação desse tipo.
O tema sobre o qual escrevemos hoje é de cunho filosófico, mas que tem consequências sociais, econômicas e psicológicas tanto se olharmos o indivíduo quanto se analisarmos a sociedade contemporânea como um todo: a sociedade do cansaço.
O conceito “sociedade do cansaço” foi cunhado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han (1959 – ), professor de Filosofia na Universidade de Friburgo, na Alemanha, em um livro com o mesmo nome lançado em 2015.
Segundo Byung-Chul Han, a sociedade ocidental do século XXI é marcada pela ocorrência demasiada de doenças neuronais, como a depressão, o estresse, a hiperatividade, o déficit de atenção (estas duas últimas, especialmente, têm sido muito diagnosticadas em crianças e jovens, o que tem levado médicos e especialistas em saúde a questionarem estes diagnósticos, pois parece estar havendo um excesso deles e de medicações de tarjas pretas, incentivando o lucro da indústria farmacêutica).
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O lugar antes ocupado pelas doenças virais e bacterianas, hoje é ocupado pelas doenças neuronais, nascidas em nosso interior, ao contrário dos vírus e bactérias dos quais podemos nos prevenir e os quais podemos combater em curto ou médio prazo caso o quadro não seja grave.
Para Byung-Chul Han, o estilo de vida ocidental atual é o grande causador esta onda de doenças neuronais que, por sua vez, prejudicam todas as esferas da vida do paciente, desde a esfera social, íntima, familiar até a esfera profissional e, no caso das crianças e dos jovens, a esfera escolar e acadêmica.
Vivemos um dia a dia conturbado, no qual temos diversas tarefas e prazos a cumprir, diversos compromissos a comparecer, diversas pessoas a estar e, no meio disso tudo, por meio das tecnologias digitais e analógicas, somos bombardeados por informações e notícias. Temos de responder e-mails e mensagens assim que chegam, temos de nos manter informados, temos de estudar, trabalhar, nos divertir… No caso dos leitores do infoEnem, vocês têm de obter boas notas no ENEM a fim de conseguir a tão almejada vaga numa universidade pública; ufa!
Ao fim do dia, estamos exaustos! Às vezes, de tão agitados, mal conseguimos dormir e, quando dormimos, desmaiamos e parece que, no dia seguinte, já acordamos cansados. Quem nunca se sentiu assim?
Assim, temos o retrato da sociedade do cansaço: cobrada, atarefada e frustrada quando os objetivos não são alcançados. A frustração faz parte da vida e devemos saber lidar com ela, porém, cada vez mais, não sabemos lidar com as perdas. Desde a infância; crianças que têm tudo de seus responsáveis terão dificuldades em lidar com as frustrações quando forem joven e adultas.
Há quem diga que pensar positivo ajuda, que ser otimista ao extremo funciona, mas psicólogos da Universidade de Waterloo, no Canadá, comprovaram que não, que nada disso ajuda. Um estudo realizado por John Lee e Joane Wood comprovou que pacientes com autoestima baixa tendem a piorar mais ainda quando são obrigados a pensar positivamente. Conclusão: segundo esses pesquisadores, livros de autoajuda não funcionam.
De acordo com a revista Superinteressante, que publicou uma série de textos sobre o lado bom das coisas ruins (sobre pessimismo, inclusive, foi um texto fonte de uma proposta de redação da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas – em 2013), é como se, ao repetir para si mesmo que você vai conseguir uma promoção no trabalho ou vai passar no vestibular, por exemplo, isso só servisse para lembrar o quanto você está distante disso.
Enfim, como devemos nos comportar diante das frustrações, das cobranças externas e internas, individualmente? Por outro lado, como sociedade, podemos deixar de ser uma sociedade do cansaço ou estamos fadados a esse destino?
Esperamos que tenham gostado do texto e que ele sirva como reflexão sobre o nosso estilo de vida.
Até a próxima semana!
  Nota da colunista: Sobre o texto da semana passada (O Que Não Aprender Com os Deputados Sobre Redação), gostaria de agradecer imensamente pelas mensagens elogiosas; muito obrigada! Além disso, gostaria de responder aos leitores que questionaram o uso do substantivo “presidenta” no mesmo texto. Saibam que é correto e adequado usar o substantivo “presidente” em seu feminino, “presidenta”, que é dicionarizado, isto é, está presente nos dicionários da Língua Portuguesa e, portanto, existe e faz parte do nosso vocabulário. Segundo o dicionário Houaiss, “presidenta” é um substantivo feminino datado de 1872 que significa “mulher que exerce o cargo de presidente de uma instituição”; “mulher que se elege para a presidência de um país”; “mulher que preside (sessão, assembleia, reunião etc.)”. De acordo com o mesmo dicionário, realmente há um polêmica acerca desta palavra, já que alguns gramáticos foram contra a este uso, mas se está dicionarizado existe e pode ser usado.

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*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).
  **Camila é colunista semanal sobre redação do nosso portal. Seus textos são publicados todas as quintas!
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