Resumo: Este artigo tem por objetivo demonstrar o sucesso e/ou insucesso do aluno no Ensino Fundamental que geralmente é definido pelo relacionamento afetivo entre professor e estudante, determinando assim a eficácia do processo ensino-aprendizagem da matemática. O currículo das escolas deve oportunizar os aspectos formativos e informativos, levando em consideração as transformações sociais, daí a importância do uso e manuseio adequado das novas tecnologias de forma contextualiza. As faculdades têm colaborado grandemente para a formação do professor, no entanto, o curso superior não garante fecundidade na prática cotidiana, assim desponta a importância da formação continuada que é para os sistemas de educação, referências extremamente importantes. O Professor necessita se preparar para os desafios da educação emergente. Chega de saudosismos, a educação de qualidade deve ocorrer no momento presente, em um contexto de afetividade entre professores e estudantes. O professor dotado de poder já faz parte de um passado, no entanto, inúmeros professores insistem como prática atual. Na experiência deste artigo, destacar-se-á, através de um estudo de caso, que a matemática ainda continua sendo uma grande vilã na vida de milhares de estudantes brasileiros e para muitos foi o fator decisivo do insucesso no Ensino Fundamental e a solução do fracasso escolar está na afetividade.
Palavras Chave
Cognição – Afetividade – Ensino-aprendizagem – Formação Continuada – Prática Pedagógica.
A relação existente entre o sucesso escolar em matemática do aluno no Ensino Fundamental tem tornado o cotidiano do estudante, uma realidade cheia de desafios, desilusões e confusões.
A Matemática se torna uma disciplina de difícil acesso mediante a evolução do processo ensino-aprendizagem. O estudante não vê a praticidade dos conteúdos ensinados e isso faz com que perceba que a matemática é uma disciplina cheia de cálculos desnecessários, e acaba se tornando a área do conhecimento de menor aceitação em sua vida escolar. Agravando essa situação quando o docente concebe a educação centrada em si próprio e o estudante como mero expectador do conhecimento, um sujeito passivo e vazio, depositário do conhecimento.
Uma pedagogia centrada no professor, não possibilita a coordenação da visão com a preensão na exploração dos objetos ligados aos conteúdos reais de aprendizagens e nem mesmo interação entre os pares para discussão de diferentes perspectivas na aprendizagem, Monteiro (2005).
Muitos estudantes desempenham funções no dia-a-dia, das quais se torna fundamental o conhecimento matemático e as fazem com louvor. Mas no momento de efetuar os mesmos cálculos em sala de aula, não conseguem. Há um verdadeiro bloqueio entre a matemática da vida prática, a informal e a matemática da sala de aula, a formal. A experiência tem demonstrado que muitas crianças resolvem brilhantemente os “cálculos de cabeça”, mas diante das fórmulas e expressões, os mesmos problemas se tornam inacessíveis e fora da realidade educacional do aluno, Carraher e Schliemann (2001)
Os livros didáticos do Ensino Fundamental passam a ideologia de que ao aluno cabe o dever de levar os conteúdos ensinados para a vida prática, porém a realidade não é tão lógica assim. O que para os autores dos livros didáticos são atividades atrativas, para o estudante, é “tormento”, é “dor de cabeça na certa”. Resta-nos um consolo, muitos autores têm feito constantes revisões em suas edições mais recentes, no entanto, ainda há muito que se fazer.
Mostrar para o estudante que a série em questão será de grande desafio e descobertas são maneiras de chamar a atenção e despertar a curiosidade do mesmo, Mori & Onaga (2001), Guelli, (1999), porém, esse encanto acaba logo nos primeiros capítulos. É de grande aceitação que o conhecimento matemático seja resultado da vivência e resolução de problemas do cotidiano, da observação dos fenômenos que ocorrem na natureza, logo uma disciplina desafiadora para o aluno, pelo menos teoricamente. Na prática, é o livro menos preferido. Algumas raríssimas exceções, se interessam pelos cálculos numéricos.
Assim, falar em ensino-aprendizagem é fazer referência ao currículo propriamente dito, para Câmara (2003) a ênfase na transmissão pura e simples de conteúdos significa uma ruptura epistemológica entre saber e consciência, entre o compromisso político do educador de um lado e a competência técnica do saber organizado do outro e ainda Berticelli (2001), currículo é construção e não um agrupamento de disciplinas com finalidades isoladas. E ainda Chalita (2001) complementa que não se pode mais conceber o currículo engessado como uma grade formal e antiquada. O saber não é exclusivamente dos mestres e dos livros didáticos. O aluno não é um depósito de informações e de teorias do conhecimento.
O terceiro milênio Câmara (2003) está sendo marcado por grandes avanços no campo da ciência e da tecnologia com seus benefícios extraordinários trazidos para a humanidade, em que são exigidos uma mão de obra cada vez mais qualificada, no entanto, as políticas de democratização da educação pública brasileira vive o grande dilema de criar analfabetos escolarizados, isso pode ser oriundos dos currículos adotados pela escola, muitas vezes ultrapassado e sem aplicabilidade para o aluno. Alguns programas governamentais, embora contemplados pela LDB 9394/96 corroboram profundamente com esta situação; o Programa Acelera, EJA, Educação Inclusiva. Não cabe aqui a argumentação de que esses programas não tenham relevância social, o que está em jogo é a desvinculação do que a escola ensina daquilo que é necessário para o êxito em situações de um mundo globalizado, excludente e altamente competitivo.
Todo professor gostaria de ter os melhores alunos, bem como todos os estudantes gostariam de ter o privilégio de estudar com os melhores professores, isso possivelmente faria a grande diferença. No entanto, a realidade brasileira de muitos estudantes e professores desmonta este sonho. Se por um lado os estudantes não conseguem atingir os objetivos propostos pelo professor, por outro lado, os professores de matemática, tiram o incentivo de muitos estudantes com seus cálculos numéricos enfadonhos, que em geral, são didaticamente incorretos.
A questão da afetividade, das boas relações no dia-a-dia poderiam aproximar os autores do processo educativo, fazendo com que as aulas de matemática proporcionassem mais prazer a ambos. O Professor de matemática dotado de poder e de autoridade não proporciona harmonia e segurança aos estudantes e este perfil de profissional está fadado ao fracasso. Está na hora de reencantar a educação como bem descreveu Assmann (2004) e ainda Monteiro (2005) acrescenta que aprendizagem é um processo de conscientização, que se opera em diferentes níveis, dependendo dos processos de relação entre significantes e o significado.
É muito fácil concordar com as críticas que se faz a educação nos dias atuais. É notório que os alunos ao chegar na etapa final do Ensino Médio, pouco sabem. As evidências são muitas ENEM, SAEB, Relatório de Piza, Olimpíada de matemática, etc.
A LDB 9394/96, determina em inúmeros artigos a finalidade da educação que é de tríplice natureza:
- O pleno desenvolvimento do educando;
- Preparo para o exercício da cidadania;
- Qualificação para o trabalho.
O Conhecimento não pode ser reduzido unicamente ao racional. É preciso pensar em outras possibilidades para a educação. A educação não se faz somente de informação. É preciso pensar nos aspectos formativos, daí a extrema importância de uma prática docente atrelada a afetividade.
É preciso educar dentro de uma visão de totalidade, dentro dos vários níveis de conhecimento e de expressão: o sensorial, o intuitivo, o afetivo, o racional e o transcendental. Moran (1993).
Educar para novas experiências, educar para o positivo, educar para a autonomia, educar para a liberdade possível, educar para a autenticidade, educar para encontrar o eixo, o sentido de nossa vida, daí a visão de totalidade, Silveira (2002), um grande desafio para os matemáticos que condicionam sua disciplina a individualidade e acessibilidade de poucos.
Nos dias atuais, se torna necessário criar ambientes de ensino-aprendizagem mais atraentes, envolventes e multisensoriais. É preciso vencer a cultura de que a matemática é somente concentração e cálculos com grandes fórmulas.
Alguns instrumentos pedagógicos como quadro-negro, giz, apagador estão sendo repensados e em paralelo despontam novas possibilidades de aulas contextualizadas e trabalhadas de forma interdisciplinar, nesta perspectiva desponta o computador e suas inúmeras possibilidades. Em pleno Século XXI necessita-se de novas tecnologias de comunicação nas etapas de formação. As tecnologias, dentro de um projeto pedagógico inovador, facilitam o processo do ensino-aprendizagem. No entanto, pensar nas novas tecnologias sem pensar na relação afetiva entre os envolvidos no processo ensino aprendizagem, é mergulhar no negativismo da prática pedagógica.
O professor é visto como alguém que assume um papel central na orientação e na facilitação do processo de aprendizagem num diálogo com seus alunos e em resposta às situações que emergem. Hypolito (2000).
Buscando entender o fenômeno do ensino-aprendizagem e suas implicações pedagógicas foi desenvolvido numa escola pública do Município de Anápolis-GO, uma pesquisa buscando evidenciar e caracterizar o relacionamento entre professor e estudante, buscando assim desmistificar que as relações de poder aplicadas entre inúmeros professores apenas os distanciam de seus estudantes, tornando a sala de aula um ambiente de disputa e de indisciplina.
A amostra foi composta por 68 alunos egresso do Ensino Fundamental. A constituição da amostra baseou-se na escolha aleatória, não probabilística, de duas turmas sem qualquer tipo de exclusão. A referida amostra foi composta de jovens de ambos os sexos, na faixa etária de 15 a 25 anos (figura 1), que freqüentam as aulas no ensino noturno, escola estadual pública, localizada na periferia da cidade, que em sua maioria, trabalha no período diurno.
Para os estudantes do noturno a educação é mais que informação, é preciso que o professor seja capaz de despertar interesse e proporcionar aulas mais atrativas. Trabalhar e estudar não é tarefa fácil para a maioria e dificulta ainda mais quando o professor utiliza uma postura radical de imposição de poder dando as regras do jogo. O distanciamento entre professor e estudante faz com as aulas sejam apenas momento de repassar informações, fazendo com que os alunos contem os minutos para tocar o sino e entrar o próximo professor, chegando assim, a última aula e ir para casa.
Não foram consideradas para levantamento de dados, as particularidades da distorção idade/série da maioria dos alunos do turno noturno.
Figura 1
A relação existente entre o estudante e a escola na atualidade teve como eixo norteador à função da escola. Ficou evidente que a escola para o estudante é garantia de seu futuro, para eles sem a escola não há garantias de melhorias na vida.
É na escola que acontece a preparação para o vestibular, objetivo de boa parte da clientela e onde também há vivência plena da cidadania, geralmente votam pela primeira vez, começam a trabalhar, pagam mais impostos, ficam mais conscientes de seus direitos e deveres, etc.
Embora a maioria tenha percebido a escola como uma segurança para o futuro, foi destacado também, que alguns alunos percebem a escola como uma local de obrigação, de ensino rigoroso, de falta de liberdade, de imposição, conforme demonstra a figura 2.
Figura 2
Dos 68 alunos entrevistados, 56 já repetiram alguma série do Ensino Fundamental, conforme demonstra a figura 3.
O fracasso escolar está ligado, segundo os pesquisados, as dificuldades de aprendizagem, didática inacessível do professor, falta de interesse pessoal, trabalho excessivo, falta de dedicação e abandono de sala de aula quando as exigências acadêmicas aumentam e a disponibilidade para o estudo se reduz.
As variantes do fracasso escolar não param por aí. Como a maioria do alunado do noturno possui idade superior a 18 anos são condicionados pelas condições familiares a assumirem postos de trabalho. Conciliar trabalho e estudo é uma árdua tarefa para boa parte desses jovens, sendo esta uma das maiores variáveis para que os índices de evasão escolar já comece a crescer nos primeiros meses do ano letivo.
A maioria dos estudantes do turno noturno é trabalhadora, possui baixa qualificação, geralmente desempenha serviço pesado e reclamam da falta de tempo, essas variáveis interferem em um dos fatores primordiais do sucesso escolar, a leitura. O hábito necessário de ler em casa geralmente acaba ficando para segundo plano e comprometendo o desempenho acadêmico de cada aluno.
Estudar em casa, fazer tarefas, ser assíduo, todos os estudantes sabem que são características essenciais, porém na prática (conforme mostra a figura 4), o aluno só estuda nas vésperas das “provas”, colar é uma ação real na vida diária. A cultura “quem não cola, não sai da escola” é bastante difundida nesse meio estudantil.
O professor do noturno nem precisa se dar o trabalho de passar tarefas extra-classe, já é sabido que não serão feitas. A desculpa sempre é a mesma, “falta de tempo”. Assim desponta um novo fazer pedagógico do professor. É preciso repensar o modelo de ensino que se aplica ao noturno. Isso não significa dizer que os alunos do noturno são piores, mais fracos que os do diurno, significa dizer que são estudantes de uma realidade específica. Cobrança, avaliações extremamente difíceis levam os estudantes a desanimarem, proporcionando, assim aumento as estatísticas de evasão e repetência.
Desenvolver projetos, tarefas, gincanas, só se valer nota e deverá ser feita em sala de aula, aproveitando o único tempo disponível da maioria dos alunos do turno noturno. Isso não significa dizer que todo aluno do noturno é assim, toda regra tem exceção, ainda bem. No entanto, a motivação/cultura do aluno geralmente está centrada no “quanto vai valer”, assim como menciona Ubiratan D’Ambrósio (2003), o processo educacional é global e na verdade sempre produz resultados positivos, pelo menos estaticamente, ele ainda continua, mas muitas vezes não aqueles que pretendíamos..
Figura 4
Os contextos de desgostos foram centrados nos conteúdos da série (conforme mostra a figura 5). Para boa parte, os conteúdos, embora difíceis, também eram ensinados por professores de pouca qualificação, tornando assim, a matemática um grande desafio, um tormento na vida cotidiana do estudante.
Para o estudante, o professor tem que ensinar bem e motivar, o relacionamento precisa ser envolvente. O professor autoritário e centralizador perdeu espaço para o professor companheiro e incentivador. É o profissional que, além da sua função, desempenha outras funções, geralmente próprias da família.
De acordo com Ubiratan D’Ambrósio (2003), a cada instante da vida há aprendizado, normalmente sem interferência da escola e do professor, esta posição reforça o pensamento de Terezinha Carraher (2001), quando relata as experiências dos alunos fora da escola e compara com resultados dos mesmos alunos na escola. No entanto, é sabido que a escola é muito importante na vida de cada um, mas é preciso repensar a função dela, como dizia Paulo Freire, é preciso reinventar a educação, pelo menos para os sujeitos que fizeram parte dessa pesquisa e foram capazes de mostrar a falta de interação existente entre a matemática do dia a dia e a matemática ensinada na sala de aula.
Desta forma, Carlos Brandão (1995) nos mostra o que é a educação.
É uma atividade criadora, que visa levar o ser humano a realizar as suas potencialidades físicas, morais, espirituais e intelectuais. Não se reduz à preparação para fins exclusivamente utilitários, como uma profissão, nem para desenvolvimento de características parciais da personalidade, como um dom artístico, mas abrange o homem integral, em todos os aspectos de seu corpo e de sua alma.
Figura 5
A Matemática não é somente lamento e dificuldades. Em uma tarefa desafiadora, porém não impossível, foi perguntado ao estudante, pelo menos em uma série, em que a matemática foi marcante positivamente na vida estudantil dele, conforme demonstra a figura 6.
Assim, o sucesso centrou na figura do professor, foi mencionado que o que torna a disciplina atrativa é a relação estabelecida entre o professor e o aluno, a questão da afetividade foi determinante.
O professor deve ser, antes de tudo, carismático, amigo, receptivo, como já mencionou Maria Isabel (1996), no entanto, é interessante que o aluno perceba seu empenho e sua responsabilidade. Não é necessário ser um sargento para impor respeito. Os conteúdos se tornam fáceis quando os alunos percebem no professor o desejo mais forte que o de passar somente conteúdos. A fama de que o professor de matemática é o que mais reprova é um mito que já está superado pelos estudantes pesquisados, despontando assim, o segredo do sucesso que está na afetividade
Figura 6
As concepções educativas ao longo de nossa história demonstram que em cada época o professor apresenta características próprias inerentes ao contexto cultural.
Houve época em que ele era visto como o centro do saber. Ele era o grande mestre que sabia tudo, e ao estudante cabia apenas o papel de “aprender” o que era ensinado. Não se discutia a eficácia do processo educativo. O ensino era feito com muita imposição. A liberdade de expressão do aluno não tinha destaque algum.
As concepções educativas da atualidade desmontam a eficácia da época tradicional e tenta provar o todo custo que a interação professor e aluno deve ser a mais afetiva possível.
Professor como centro do saber já não é capaz de provocar aprendizado significativo. O professor possui o papel de mediador no processo educativo. Saber teorias é importante, mas é preciso saber aplicá-las à nossa realidade e ainda criar coisas novas de acordo com nossos interesses e recursos. Cunha (1994).
Em nossa pesquisa o relacionamento privilegiado para os alunos é aquele em que o professor demonstra ser amigo da turma, é capaz de responder aos anseios da mesma, respeita os alunos (conforme demonstra a figura 7). Foi muito destacada a expressão “aquele que tem paciência”, levando em consideração as turmas superlotadas, em geral com mais de 45 alunos. Ter paciência em uma sala de inteligências múltiplas é uma tarefa muito desafiadora.
Os sujeitos da pesquisa conseguiram demonstrar uma grande diferença entre o professor que avalia para punir e aquele que avalia para construir o conhecimento. Este primeiro é capaz de reprovar o aluno só para mostrar que ele ainda tem poder em sala de aula. O segundo consegue no decorrer do ano letivo levar ao aluno um conhecimento capaz de fazê-lo progredir nos estudos e almejar um curso superior ou outras modalidades de ensino.
Mesmo que seja comprovada a decadência da escola pública, as políticas educativas da atualidade evidenciam a figura do aluno como nunca. Ele é o existir da escola, é a figura mais importante da escola. Talvez queiram justificar os anos de história em que ao aluno só cabia o papel de repetidor do que lhe era ensinado. A quem prefira essa época, pois garantem que lá o aluno aprendia e não vivia o “faz de conta” da atualidade.
Figura 7
Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, suscitar o desejo de aprender, explicar a relação com o saber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a capacidade de auto-avaliação Perrenoud (2000), faz com que o processo de ensino-aprendizagem cumpra o seu papel. No entanto, o objetivo principal da maioria dos alunos é conseguir notas para aprovação, muitos não percebem que a principal intenção da rede oficial de educação é promover os alunos para continuarem os estudos e se possível atingirem o ensino superior, mesmo que para isso precise contar com as contribuições das cotas de acesso para alunos negros, de escolas públicas, índios, etc., mas o maior desafio é como isso efetivamente vai acontecer.
Para muitos sujeitos de nossa pesquisa, uma aula inesquecível de matemática só seria possível quando eles fossem capazes de “tirar 10”, mas diante da impossibilidade de conseguir essa proeza, não há como qualificar uma aula inesquecível.
Outros porém, são mais flexíveis, assumem as dificuldades que têm, mas são capazes de identificar como seria uma aula inesquecível; aquela em que o professor fosse capaz de utilizar brincadeiras, que explicasse bem, tivesse calma para explicar, levasse os alunos à participação, demonstrasse os conteúdos de forma seqüencial, se preocupasse mais com a qualidade em detrimento da quantidade, ou seja, tudo passa pelo relacionamento afetivo.
Muitos estudantes até conseguem entender a matéria, mas não se esforçam em fazer atividades extra-classe, demonstrando assim, a desvinculação do ensino da sala de aula e a sua prática no dia-a-dia, deixando para trás um dos mais importantes objetivos da matemática que é hoje tanto uma ciência como uma habilidade necessária à sobrevivência numa sociedade complexa e industrializada, Carraher (2001).
Desenvolver o raciocínio lógico e buscar preparação para a vida, são os principais objetivos da matemática (conforme demonstra a figura 8), pelo menos teoricamente, para os sujeitos desta pesquisa. Ser capaz de efetuar cálculos, resolver problemas e ultrapassar os limites da falta de aptidão são tarefas fundamentais para o exercício eficaz da disciplina dos números.
O estudante deverá ser capaz de utilizar-se da matemática em seu dia-a-dia, este é o grande desafio do professor no terceiro milênio, numa sociedade que se configura numa perspectiva de uma complexidade crescente, de incertezas e de interdependências (Câmara, 2003).
Figura 8
O grande desafio do professor de matemática é tornar suas aulas atrativas, mais interessantes, mais afetivas. Já não basta encarar a disciplina como inacessível aos alunos, é preciso oportunizar a aprendizagem diariamente. É momento de repensar a prática pedagógica do professor de matemática, para isso, se torna necessário refletir a respeito da figura do professor reflexivo. Rubem Alves (1984) nos dá uma boa dica, Educador, onde estão? Em que covas terão se escondido? Professores há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança.
As novas competências para ensinar Perrenoud (2000), indicam os meios para se chegar a excelência:
- Trabalhar a partir das representações dos alunos, trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem;
- Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o saber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver no estudante a capacidade de auto-avaliação;
- Utilizar novas tecnologias.
Houve épocas em que as melhores escolas eram as que mais reprovavam, essas escolas eram temidas pelos alunos e logo, a obrigação de estudar era condicionada pelo medo da reprovação.
Chegamos ao momento propício de dar um novo significado à escola. Ela não deve ser uma disputa de poder, precisa ser um local de relações afetivas. O professor antes de exercer sua profissão, precisa estar intimamente consciente de seu papel diante da sociedade. Não podemos nos permitir de ver os indicadores de repetência e evasão aumentando a cada ano.
Não se pode tratar a educação como um negócio qualquer. É através dela que uma nação se desenvolve. Trabalhar as particularidades do aluno é um dever do professor. É preciso impedir existência de analfabetos diplomados. É chegada a hora de reencantar a educação através da afetividade, das boas relações, fazendo com que o estudante viva dignamente sua cidadania dentro da sala de aula e seja capaz de aprender cada vez mais.
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[1] Professor de Matemática – Ensino Médio e Ensino Fundamental – Secretaria Estadual de Educação/Goiás e Secretaria Municipal de Educação Anápolis/Goiás. Professor de Matemática e Metodologia do Ensino da Matemática do Programa de Formação de Professores em Exercício – Universidade Estadual de Goiás – UEG. Graduado em Matemática, Letras e Ciências Contábeis – Especialista em Matemática e Estatística, Informática Educativa e Administração Educacional. Mestrando da Universidade Católica de Brasília – UCB (Mestrado em Educação).
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